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Água de Cometa é Idêntica à da Terra, Diz Estudo

Imagine que a água que você bebe hoje chegou aqui vinda do espaço profundo, carregada por cometas gelados há bilhões de anos. Parece ficção científica, mas é exatamente o que os cientistas estão confirmando. Segundo novas observações feitas com o radiotelescópio ALMA, o cometa 12P/Pons-Brooks possui água com uma “assinatura química” praticamente igual à dos oceanos terrestres. Essa descoberta revoluciona nossa compreensão sobre a origem da vida no planeta — e reforça a ideia de que cometas podem ter sido os verdadeiros mensageiros cósmicos que tornaram a Terra habitável.

Cometas Trouxeram Água para a Terra?

Durante bilhões de anos, cientistas suspeitaram que a água da Terra não estava aqui desde o começo. Nosso planeta se formou numa região quente do Sistema Solar, onde a água líquida simplesmente não podia existir. Então, de onde veio toda essa água que cobre 70% da superfície terrestre?

A resposta mais aceita envolve impactos violentos de cometas, asteroides e meteoritos que bombardearam a Terra primitiva. Portanto, esses visitantes espaciais funcionaram como delivery cósmico, entregando não apenas água, mas possivelmente ingredientes moleculares essenciais para o surgimento da vida.

Contudo, havia um problema: a maioria dos cometas estudados até agora apresentava uma composição isotópica diferente da água terrestre. Isso gerava dúvidas sobre o papel real desses corpos gelados na história da Terra.

A Descoberta do ALMA Muda o Jogo

Utilizando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), localizado no deserto chileno, uma equipe internacional liderada por Martin Cordiner, da NASA, fez algo inédito. Além disso, conseguiram mapear pela primeira vez a distribuição espacial de água comum (H₂O) e água pesada (HDO) na coma do cometa — aquela nuvem de gás que envolve o núcleo gelado.

A água pesada contém deutério, um isótopo do hidrogênio com um nêutron extra. Assim, medir a proporção entre deutério e hidrogênio (chamada de razão D/H) funciona como uma impressão digital química, revelando a origem e a história da água.

O resultado foi surpreendente: a razão D/H encontrada no 12P/Pons-Brooks foi de (1,71 ± 0,44) × 10⁻⁴ — a mais baixa já medida em um cometa do tipo Halley e compatível com a água dos oceanos terrestres.

Vista panorâmica do ALMA Observatory, localizado no deserto de Atacama, Chile. O ALMA é uma das instalações astronômicas mais avançadas do mundo, composta por uma rede de antenas que captam radiação submilimétrica e milimétrica para estudar o universo em detalhes impressionantes.
Vista panorâmica do ALMA Observatory, localizado no deserto de Atacama, Chile. O ALMA é uma das instalações astronômicas mais avançadas do mundo, composta por uma rede de antenas que captam radiação submilimétrica e milimétrica para estudar o universo em detalhes impressionantes.

Por Que Esse Cometa é Tão Especial?

De acordo com os pesquisadores, cometas do tipo Halley são relíquias congeladas que sobraram da formação do Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos. Enquanto isso, eles preservam informações preciosas sobre as condições químicas daquela época.

“Cometas como esse são cápsulas do tempo congeladas”, explicou Cordiner em comunicado oficial. Dessa forma, estudar sua composição é como abrir uma janela para o passado distante do nosso sistema planetário.

Stefanie Milam, coautora do estudo e pesquisadora da NASA, destacou outro ponto crucial: mapear H₂O e HDO diretamente na coma permite confirmar que esses gases vêm do gelo do núcleo, e não de reações químicas ocorrendo no gás ao redor do cometa. Por outro lado, isso garante que as medições reflitam a composição original do corpo celeste.

Com a chegada da primavera para os observadores do céu do hemisfério norte, o cometa 12P/Pons-Brooks está se tornando mais brilhante. Atualmente visível com pequenos telescópios e binóculos, o cometa do tipo Halley pode chegar a ser visto a olho nu nas próximas semanas. Apesar da atmosfera enevoada, a coma esverdeada e a longa cauda do cometa pairam perto do horizonte nesta bela paisagem noturna profunda registrada em Revuca, na Eslováquia, em 5 de março. M31, também conhecida como Galáxia de Andrômeda, e a brilhante estrela amarelada Mirach, a segunda estrela mais brilhante da constelação de Andrômeda, aparecem no céu acima do cometa. A Galáxia de Andrômeda está a cerca de 2,5 milhões de anos-luz além da Via Láctea.
Crédito da imagem e direitos autorais: Petr Horálek / Instituto de Física em Opava
Com a chegada da primavera para os observadores do céu do hemisfério norte, o cometa 12P/Pons-Brooks está se tornando mais brilhante. Atualmente visível com pequenos telescópios e binóculos, o cometa do tipo Halley pode chegar a ser visto a olho nu nas próximas semanas. Apesar da atmosfera enevoada, a coma esverdeada e a longa cauda do cometa pairam perto do horizonte nesta bela paisagem noturna profunda registrada em Revuca, na Eslováquia, em 5 de março. M31, também conhecida como Galáxia de Andrômeda, e a brilhante estrela amarelada Mirach, a segunda estrela mais brilhante da constelação de Andrômeda, aparecem no céu acima do cometa. A Galáxia de Andrômeda está a cerca de 2,5 milhões de anos-luz além da Via Láctea. Crédito da imagem e direitos autorais: Petr Horálek / Instituto de Física em Opava

O Poder do Radiotelescópio ALMA

A detecção de sinais fracos de água pesada tão perto do núcleo cometário nunca havia sido feita antes. Isso só foi possível graças à sensibilidade excepcional do ALMA, que opera em comprimentos de onda milimétricos e submilimétricos — ideais para observar moléculas frias no espaço.

Além disso, os dados foram combinados com medições infravermelhas feitas pelo Infrared Telescope Facility (IRTF) da NASA, no Havaí. Assim, a equipe conseguiu determinar a razão D/H com uma precisão sem precedentes para cometas dessa classe.

Por fim, essa abordagem multiespectral representa um avanço tecnológico significativo na astroquímica moderna.

Mapas do ALMA mostrando a distribuição de água comum (H₂O) e água pesada (HDO) no cometa 12P/Pons-Brooks. Os contornos indicam a intensidade dos sinais, com contornos mais altos mostrando detecções mais fortes. Os pequenos painéis no canto superior direito exibem a intensidade dos sinais de água no centro do cometa. O canto inferior esquerdo mostra a resolução do ALMA para essas observações, enquanto o canto inferior direito indica a direção em relação ao Sol e o caminho do cometa pelo espaço. Crédito: M. Coordiner et al. - ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)
Mapas do ALMA mostrando a distribuição de água comum (H₂O) e água pesada (HDO) no cometa 12P/Pons-Brooks. Os contornos indicam a intensidade dos sinais, com contornos mais altos mostrando detecções mais fortes. Os pequenos painéis no canto superior direito exibem a intensidade dos sinais de água no centro do cometa. O canto inferior esquerdo mostra a resolução do ALMA para essas observações, enquanto o canto inferior direito indica a direção em relação ao Sol e o caminho do cometa pelo espaço. Crédito: M. Coordiner et al. – ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)

Implicações para a Origem da Vida

Se cometas como o 12P/Pons-Brooks realmente trouxeram água para a Terra, então também podem ter entregue moléculas orgânicas complexas — os tijolos básicos da vida. Portanto, entender a composição isotópica da água cometária nos ajuda a reconstruir o quebra-cabeça da nossa própria existência.

Enquanto isso, outros estudos continuam investigando asteroides e meteoritos, que também podem ter contribuído com água e compostos orgânicos. Contudo, a nova descoberta fortalece consideravelmente o papel dos cometas nessa história.

Dessa forma, cada nova medição nos aproxima de responder uma das perguntas mais fundamentais da ciência: como a vida surgiu no planeta Terra?

O Que Vem Pela Frente?

A pesquisa foi publicada na prestigiada revista Nature Astronomy, e já está inspirando novas investigações. Cientistas planejam observar outros cometas do tipo Halley com a mesma técnica, buscando confirmar se essa composição isotópica é comum ou excepcional.

Além disso, missões espaciais futuras — como a Comet Interceptor, da Agência Espacial Europeia — devem coletar amostras diretas de cometas, permitindo análises ainda mais detalhadas em laboratórios terrestres.

Por outro lado, o estudo também reforça a importância de telescópios como o ALMA, que continua sendo uma ferramenta essencial para desvendar os mistérios do cosmos.

alma obervatorio O maior observatório do mundo é o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), um complexo de radiotelescópios localizado no deserto do Atacama, no Chile. No entanto, o observatório astronômico permanente mais alto é o Observatório Atacama da Universidade de Tóquio (TAO)
alma obervatorio O maior observatório do mundo é o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), um complexo de radiotelescópios localizado no deserto do Atacama, no Chile. No entanto, o observatório astronômico permanente mais alto é o Observatório Atacama da Universidade de Tóquio (TAO)

Conclusão: Mensageiros Cósmicos da Vida

A descoberta de que o cometa 12P/Pons-Brooks possui água idêntica à dos oceanos terrestres é muito mais do que uma curiosidade científica. Ela nos conecta diretamente ao passado primordial do Sistema Solar e reforça a hipótese de que somos, literalmente, feitos de poeira estelar — e gelo cometário.

Portanto, olhar para o céu noturno e avistar um cometa ganha um novo significado: talvez estejamos vendo parentes distantes dos mensageiros cósmicos que tornaram a vida possível aqui.

E você, já imaginou que a água no seu copo pode ter viajado bilhões de quilômetros antes de chegar até você? Quer descobrir mais sobre os mistérios do universo? Visite nosso site www.rolenoespaco.com.br e siga a gente no Instagram @role_no_espaco para mais conteúdo fascinante sobre o cosmos!

Perguntas Frequentes (FAQ)

O que é a razão D/H em cometas?

É a proporção entre deutério (hidrogênio pesado) e hidrogênio comum na água. Funciona como uma impressão digital química que revela a origem do cometa.

Por que a água da Terra tem origem espacial?

A Terra se formou numa região quente demais para reter água líquida. Assim, cometas, asteroides e meteoritos provavelmente trouxeram água durante impactos bilionários.

O que é um cometa do tipo Halley?

São cometas com órbitas longas que levam décadas ou séculos para completar uma volta ao redor do Sol, como o famoso cometa Halley.

O que é o radiotelescópio ALMA?

É um conjunto de 66 antenas no Chile que observa o universo em comprimentos de onda milimétricos, permitindo estudar moléculas frias no espaço.

Todos os cometas têm água igual à da Terra?

Não. A maioria apresenta diferenças isotópicas. Por isso a descoberta do 12P/Pons-Brooks é tão importante.

Cometas podem ter trazido vida para a Terra?

Possivelmente. Além de água, cometas contêm moléculas orgânicas complexas que podem ter sido essenciais para o surgimento da vida.

Quando o estudo foi publicado?

Em agosto de 2025, na revista científica Nature Astronomy, uma das publicações mais respeitadas da astronomia mundial.

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Fonte: Artigo almaobservatory.org

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