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ALMA Confirma: O Universo Primitivo Era Mais Quente do que Imaginamos

Uma Viagem no Tempo Cósmico

Você já parou para pensar em como era o universo primitivo? Não estamos falando de milhões, mas sim de bilhões de anos atrás! A cosmologia, a ciência que estuda a origem e a evolução do cosmos, nos diz que o universo está em constante expansão e, por isso, esfriando. Mas, afinal, quão quente ele era no passado?

A resposta para essa pergunta acaba de ganhar uma precisão impressionante, graças ao poder do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array). Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Keio, no Japão, em colaboração com o Observatório Astronômico Nacional do Japão, realizou a medição mais precisa da temperatura da Radiação Cósmica de Fundo (CMB) em um passado distante. Este feito não apenas confirma uma das previsões mais fundamentais do modelo cosmológico padrão, mas também nos oferece uma janela fascinante para o calor do universo primitivo.

A Radiação Cósmica de Fundo: O Eco do Big Bang

Para entender essa descoberta, precisamos primeiro falar sobre a Radiação Cósmica de Fundo (CMB). Pense nela como o “eco” do Big Bang, a luz mais antiga que podemos detectar. Ela se originou cerca de 380.000 anos após o Big Bang, quando o universo esfriou o suficiente para que os elétrons se combinassem com os núcleos, formando os primeiros átomos. Dessa forma, a luz pôde viajar livremente pelo espaço.

Hoje, a CMB é uma radiação de micro-ondas extremamente fria, com uma temperatura de aproximadamente 2,7 Kelvin (ou -270,45 °C). No entanto, o modelo do Big Bang prevê que, quanto mais olhamos para trás no tempo (ou seja, quanto maior o redshift), mais quente a CMB deve ser. Isso acontece porque o universo era muito menor e mais denso, e a radiação estava mais “comprimida”.

Ilustração esquemática mostrando as posições relativas do quasar de fundo (PKS1830–211), da galáxia em primeiro plano que produz a absorção de HCN e do observador (ALMA)
Ilustração esquemática mostrando as posições relativas do quasar de fundo (PKS1830–211), da galáxia em primeiro plano que produz a absorção de HCN e do observador (ALMA). Créditos:keio.ac.jp

Onde o ALMA Entra Nessa História?

O ALMA, localizado no Deserto do Atacama, no Chile, é um dos telescópios mais poderosos do mundo. Ele é capaz de captar comprimentos de onda milimétricos e submilimétricos, o que o torna perfeito para estudar objetos distantes e frios, como a CMB.

A equipe de pesquisa, que incluiu o estudante de doutorado Tatsuya Kotani e o Professor Tomoharu Oka, concentrou sua análise em dados de arquivo do ALMA. Eles miraram em uma fonte de luz muito especial: o quasar PKS1830−211. Quasares são núcleos galácticos ativos extremamente luminosos, e este em particular está a uma distância que corresponde a um redshift de $z = 0.89$.

Medindo o Calor do Universo Primitivo

O redshift $z = 0.89$ significa que a luz que estamos observando viajou por cerca de 7 bilhões de anos para chegar até nós. É como se estivéssemos olhando para o universo quando ele tinha aproximadamente metade de sua idade atual.

Para medir a temperatura da CMB nesse ponto, os cientistas usaram o quasar PKS1830−211 como uma espécie de “termômetro cósmico”. A luz do quasar passa por uma nuvem de gás no meio do caminho, e a CMB atua como uma fonte de calor que excita as moléculas desse gás. Ao analisar o espectro da luz do quasar, os pesquisadores conseguiram determinar o quão “quente” a CMB estava ao interagir com o gás.

(a) Espectros de absorção de cianeto de hidrogênio (HCN) obtidos com o ALMA. Quatro características de absorção correspondentes a transições entre diferentes níveis de energia do HCN são mostradas em tons de azul.

(b) Perfis de profundidade óptica (acima) e de temperatura de excitação (abaixo) derivados da intensidade da absorção. A temperatura de excitação foi calculada para cada intervalo de velocidade (mostrado em magenta) e codificada por cores de acordo com a transição utilizada. A linha tracejada roxa indica o valor previsto pelo modelo cosmológico padrão (5,14 K). A média ponderada dentro da região central de absorção (destacada em amarelo), 5,13 ± 0,06 K, é considerada como a melhor representação da temperatura da radiação cósmica de fundo (CMB) naquela época cósmica.

(c) Dependência da temperatura da CMB com o desvio para o vermelho (redshift). O ponto vermelho mostra a medição obtida neste estudo, enquanto os pontos pretos representam resultados anteriores. A linha azul sólida e a região sombreada mostram o melhor ajuste do modelo e sua incerteza. O valor medido concorda, dentro das incertezas, com a previsão do modelo padrão (linha preta tracejada), demonstrando que a teoria do Big Bang foi testada no universo como ele era há 7 bilhões de anos.
(a) Espectros de absorção de cianeto de hidrogênio (HCN) obtidos com o ALMA. Quatro características de absorção correspondentes a transições entre diferentes níveis de energia do HCN são mostradas em tons de azul. (b) Perfis de profundidade óptica (acima) e de temperatura de excitação (abaixo) derivados da intensidade da absorção. A temperatura de excitação foi calculada para cada intervalo de velocidade (mostrado em magenta) e codificada por cores de acordo com a transição utilizada. A linha tracejada roxa indica o valor previsto pelo modelo cosmológico padrão (5,14 K). A média ponderada dentro da região central de absorção (destacada em amarelo), 5,13 ± 0,06 K, é considerada como a melhor representação da temperatura da radiação cósmica de fundo (CMB) naquela época cósmica. (c) Dependência da temperatura da CMB com o desvio para o vermelho (redshift). O ponto vermelho mostra a medição obtida neste estudo, enquanto os pontos pretos representam resultados anteriores. A linha azul sólida e a região sombreada mostram o melhor ajuste do modelo e sua incerteza. O valor medido concorda, dentro das incertezas, com a previsão do modelo padrão (linha preta tracejada), demonstrando que a teoria do Big Bang foi testada no universo como ele era há 7 bilhões de anos.

A Descoberta: O Universo Era Duas Vezes Mais Quente

Os resultados, publicados no prestigiado The Astrophysical Journal, são impressionantes. A equipe determinou que a temperatura da CMB naquela época era de $5.13 \pm 0.06$ Kelvin.

Portanto, essa temperatura é aproximadamente o dobro da temperatura atual da CMB (cerca de 2,7 K). Além disso, a precisão dessa medição é a mais alta já obtida para um redshift intermediário.

ÉpocaRedshift ($z$)Idade do Universo (Aprox.)Temperatura da CMB (K)
Atual013.8 Bilhões de anos$\approx 2.7$
Primitivo0.897 Bilhões de anos$5.13 \pm 0.06$

Dessa forma, a descoberta confirma a previsão fundamental da cosmologia do Big Bang: a temperatura da CMB aumenta em proporção a $(1 + z)$ quando olhamos para o passado. Contudo, a precisão alcançada é o que realmente torna este estudo um marco.

Por Que Essa Precisão é Tão Importante?

Você pode se perguntar: por que se importar com uma diferença de 0.06 K? Afinal, essa precisão extrema é crucial para testar a robustez do nosso modelo cosmológico padrão.

Segundo a equipe de pesquisa da Universidade de Keio, essa medição fornece um teste observacional rigoroso do modelo padrão. Se a temperatura medida fosse significativamente diferente da prevista, isso poderia indicar que nossa compreensão da história térmica do universo estaria incompleta ou até mesmo errada.

Assim, ao confirmar a previsão com tamanha exatidão, os cientistas reforçam a ideia de que o modelo do Big Bang, com seus pilares de expansão e resfriamento, está no caminho certo. Enquanto isso, a busca por desvios continua, pois qualquer anomalia poderia abrir as portas para uma “Nova Física” e revelar segredos ainda mais profundos sobre o cosmos.

O Calor que Moldou o Cosmos

A medição precisa da temperatura da CMB no universo primitivo é mais do que um número; é a confirmação de que a história que contamos sobre o cosmos está correta. Por fim, a ciência nos permite viajar no tempo e sentir o calor de um universo jovem, que era duas vezes mais quente do que é hoje.

Essa descoberta, realizada com a ajuda do ALMA, nos lembra que o universo é um lugar dinâmico, em constante mudança e resfriamento. Portanto, a próxima vez que você olhar para o céu, lembre-se de que a luz que chega aos seus olhos carrega a história de um cosmos que já foi muito mais quente.

Qual será o próximo segredo do universo que a ciência irá desvendar?

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FAQ: Perguntas Rápidas sobre o Universo Primitivo

O que é a Radiação Cósmica de Fundo (CMB)?

É o “eco” do Big Bang, a radiação mais antiga do universo, que se originou quando o cosmos tinha cerca de 380.000 anos.

Qual é a temperatura atual da CMB?

A temperatura atual da CMB é de aproximadamente 2,7 Kelvin, ou cerca de -270,45 °C.

O que significa redshift $z = 0.89$?

Significa que a luz observada viajou por cerca de 7 bilhões de anos, mostrando o universo quando ele tinha aproximadamente metade de sua idade.

Como o ALMA ajudou nessa descoberta?

O ALMA usou dados de arquivo para analisar a luz de um quasar (PKS1830−211), que serviu como “termômetro” para medir a temperatura da CMB em um passado distante.

Qual era a temperatura da CMB há 7 bilhões de anos?

A temperatura medida foi de $5.13 \pm 0.06$ Kelvin, o que é cerca de duas vezes a temperatura atual.

Essa descoberta confirma o modelo do Big Bang?

Sim, a alta precisão da medição confirma a previsão do modelo do Big Bang de que a temperatura da CMB aumenta com o redshift.

Quem realizou essa pesquisa?

A pesquisa foi realizada por uma equipe da Universidade de Keio, incluindo Tatsuya Kotani e o Professor Tomoharu Oka, em colaboração com o Observatório Astronômico Nacional do Japão.


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Referências

  1. Keio University. ALMA Confirms a Hotter Early Universe with Record-Precision Measurement of the CMB. Disponível em: https://www.keio.ac.jp/en/press-releases/files/2025/10/30/251030-1.pdf. Acesso em: 03 Nov. 2025.
  2. Kotani, T. et al. The Astrophysical Journal. Publicado em 29 de Outubro de 2025.

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