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Buckyballs: Como Cientistas Descobriram a Origem Dessas Esferas de Carbono no Espaço

Imagine moléculas de carbono flutuando pelo espaço sideral com o formato exato de uma bola de futebol. Parece ficção científica, não é? Porém, essas estruturas existem de verdade e são chamadas de buckyballs. Recentemente, cientistas da Universidade do Colorado em Boulder fizeram uma descoberta fascinante sobre como essas buckyballs são formadas no universo. Além disso, essa pesquisa pode revelar segredos sobre a origem do nosso próprio sistema solar.

Gráfico mostrando como a antraceno (canto superior esquerdo) e o fenantreno (canto inferior direito) perdem um ou dois átomos de hidrogênio para se transformarem em moléculas contendo átomos de carbono organizados em hexágonos e pentágonos. Crédito: Patch et al. 2025, J. Am. Chem. Soc.
Gráfico mostrando como a antraceno (canto superior esquerdo) e o fenantreno (canto inferior direito) perdem um ou dois átomos de hidrogênio para se transformarem em moléculas contendo átomos de carbono organizados em hexágonos e pentágonos. Crédito: Patch et al. 2025, J. Am. Chem. Soc.

O Que São Buckyballs e Por Que Elas Importam?

As buckyballs, cujo nome científico é buckminsterfullereno, são moléculas compostas por 60 átomos de carbono organizados em formato esférico. Dessa forma, elas se assemelham perfeitamente a uma bola de futebol oficial da FIFA, com padrões de hexágonos e pentágonos.

Essas estruturas pertencem à família dos fullerenos, que são moléculas de carbono em formato de gaiola fechada. O nome peculiar homenageia o arquiteto futurista Richard Buckminster Fuller, famoso por seus domos geodésicos.

Mas por que isso é importante? Segundo Jordy Bouwman, professor assistente do Departamento de Química da C.U Boulder e líder do estudo, entender como o carbono se transforma no universo é fundamental. Afinal, bilhões de anos atrás, nuvens de matéria similares se condensaram para formar nosso Sol e os planetas. Portanto, compreender esse processo nos ajuda a descobrir como a vida surgiu na Terra.

“Somos todos feitos de carbono, então é realmente importante saber como o carbono no universo é transformado antes de ser incorporado em um sistema planetário como o nosso”, explica Bouwman.

O Mistério do Meio Interestelar

Entre as estrelas existe um vasto oceano de gás e poeira chamado meio interestelar. Nesse ambiente, encontramos um verdadeiro tesouro de carbono orgânico. Lá flutuam desde hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) até as famosas buckyballs.

Os PAHs são moléculas compostas por átomos de carbono arranjados em séries de hexágonos, parecidos com favos de mel. Curiosamente, essas moléculas também são abundantes na Terra. Você as encontra em fumaça, fuligem e materiais carbonizados.

“Se você deixar seu bife na churrasqueira por tempo demais e ele ficar preto, isso contém PAHs”, brinca Bouwman. Contudo, apesar de serem comuns aqui, no espaço elas desempenham um papel completamente diferente.

Por muito tempo, os cientistas se perguntaram: como os PAHs se transformam em buckyballs? Essa questão permaneceu sem resposta até agora.

Recriando a Química Espacial em Laboratório

Para desvendar esse mistério, a equipe internacional liderada por Bouwman decidiu recriar as condições do espaço sideral aqui na Terra. Assim, eles usaram instalações de ponta na Holanda, no Free Electron Lasers for Infrared eXperiments (FELIX).

Os pesquisadores começaram estudando duas moléculas PAH pequenas: antraceno e fenantreno. Primeiramente, bombardearam essas moléculas com feixes de elétrons, simulando o que acontece quando a radiação espacial interage com moléculas no meio interestelar.

Esse bombardeio transformou os PAHs em novas moléculas orgânicas carregadas. Em seguida, os cientistas alimentaram esses produtos em um aparelho de aprisionamento de íons. Usando lasers poderosos que ocupam toda uma sala subterrânea, conseguiram analisar precisamente a estrutura das novas moléculas.

Os resultados foram surpreendentes e mudaram completamente a compreensão sobre a formação de buckyballs.

A Transformação Radical: De Hexágonos a Pentágonos

Quando os elétrons atingiram o antraceno e o fenantreno, algo extraordinário aconteceu. As moléculas perderam um ou dois átomos de hidrogênio. Porém, isso não foi tudo.

Durante esse processo, as estruturas moleculares mudaram radicalmente. Era como desmontar um castelo de Lego e construir algo completamente novo. As moléculas resultantes não continham apenas hexágonos, mas também pentágonos misturados aos hexágonos.

“Foi um resultado muito surpreendente — apenas ao remover um ou dois átomos de hidrogênio, a molécula inteira se rearranjou completamente”, diz Sandra Brünken, coautora do estudo e professora associada da Universidade Radboud.

Essa reação radical nunca havia sido observada antes. Além disso, os cientistas perceberam que essas moléculas com pentágonos são extremamente fáceis de dobrar. Pense novamente em uma bola de futebol: ela é feita justamente dessa combinação de hexágonos e pentágonos.

O Elo Perdido Entre PAHs e Buckyballs

Portanto, essas moléculas contendo pentágonos podem ser o elo perdido que explica como PAHs comuns se transformam em buckyballs e outros fullerenos no espaço.

A pesquisa, publicada no Journal of the American Chemical Society, oferece uma pista valiosa. Segundo Bouwman, “isso nos dá uma dica de que as buckyballs que encontramos no espaço podem estar conectadas a essas grandes moléculas aromáticas que também são abundantes”.

Agora, os cientistas esperam que astrofísicos usem essas descobertas para procurar moléculas similares no espaço profundo. Ferramentas como o Telescópio Espacial James Webb, o mais poderoso já lançado, podem detectar essas assinaturas moleculares.

“Você pode pegar nossos resultados do laboratório e usá-los como uma impressão digital para procurar as mesmas assinaturas no espaço”, explica Brünken.

Imagem de uma nebulosa interestelar com algumas estruturas moleculares de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) sobrepostas. Crédito: NASA.
Imagem de uma nebulosa interestelar com algumas estruturas moleculares de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) sobrepostas. Crédito: NASA.

Por Que Isso Revoluciona Nossa Compreensão do Cosmos

Essa descoberta vai muito além de simples curiosidade científica. Ela nos ajuda a entender os blocos de construção que formaram nosso sistema solar há bilhões de anos.

Quando observamos regiões como os “Pilares da Criação” na Nebulosa da Águia, vemos nuvens de gás e poeira colapsando para formar novas estrelas. Nesses berçários estelares, processos químicos similares aos estudados pela equipe de Bouwman estão acontecendo agora mesmo.

Dessa forma, compreender como o carbono se transforma no espaço nos conecta diretamente à nossa própria origem. O carbono que forma nossos corpos passou por transformações similares bilhões de anos atrás.

Os Pilares da Criação Registro icônico dos Pilares da Criação na Nebulosa da Águia, com colunas de gás e poeira moldadas pela radiação estelar, mostrando a formação de estrelas em tempo real.
Os Pilares da Criação: Créditos NASA

O Futuro das Pesquisas: Buscando Moléculas Cósmicas

Os próximos passos envolvem observações astronômicas diretas. Com os dados laboratoriais em mãos, os cientistas agora sabem exatamente o que procurar no espaço.

O Telescópio James Webb pode capturar espectros de luz de regiões distantes do universo. Comparando esses espectros com as “impressões digitais” moleculares obtidas no laboratório FELIX, será possível confirmar se essas moléculas com pentágonos realmente existem entre as estrelas.

Se confirmadas, essa descoberta mudará nossa compreensão sobre a química espacial. Além disso, pode revelar novos caminhos para a formação de moléculas orgânicas complexas no universo.

Uma Jornada do Laboratório às Estrelas

A história das buckyballs mostra como a ciência conecta o infinitamente pequeno ao imensamente grande. Moléculas microscópicas estudadas em laboratórios terrestres revelam segredos sobre a formação de sistemas solares inteiros.

Cada descoberta nos aproxima de respostas para perguntas fundamentais: Como surgiu a vida? De onde viemos? Qual é nosso lugar no universo?

A pesquisa de Bouwman e sua equipe nos lembra que somos literalmente feitos de poeira estelar. O carbono que compõe nossos corpos, nossas células e nosso DNA passou por jornadas cósmicas extraordinárias antes de chegar até nós.

Expandindo Horizontes: O Que Vem Por Aí

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Afinal, cada descoberta científica é um convite para olharmos o céu noturno com novos olhos. Quem sabe quais outros segredos as estrelas ainda guardam para nós?


Perguntas Frequentes Sobre Buckyballs

O que são buckyballs exatamente?

Buckyballs são moléculas compostas por 60 átomos de carbono organizados em formato esférico, semelhante a uma bola de futebol. Elas pertencem à família dos fullerenos e flutuam livremente no espaço interestelar.

Como as buckyballs são formadas no espaço?

Segundo a nova pesquisa, a radiação espacial bombardeia moléculas PAH com elétrons, fazendo-as perder átomos de hidrogênio. Isso causa um rearranjo radical que cria estruturas com pentágonos e hexágonos, precursoras das buckyballs.

Por que estudar buckyballs é importante?

Entender como essas moléculas se formam revela informações sobre os blocos de construção que formaram nosso sistema solar. Além disso, ajuda a compreender como o carbono se transforma no universo antes de formar planetas e vida.

Onde podemos encontrar buckyballs?

Elas existem no meio interestelar, o vasto espaço entre as estrelas. Cientistas detectam sua presença usando telescópios espaciais que analisam a luz que passa por essas regiões.

O que são PAHs e qual sua relação com buckyballs?

PAHs (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) são moléculas de carbono em formato de favos de mel. A pesquisa sugere que eles são transformados em buckyballs através da radiação espacial, sendo o ponto de partida para essas esferas de carbono.

Como os cientistas estudaram isso em laboratório?

Eles bombardearam moléculas PAH com feixes de elétrons, simulando a radiação espacial. Depois, usaram lasers poderosos para analisar as estruturas moleculares resultantes e descobrir como elas mudaram.

O Telescópio James Webb pode detectar essas moléculas?

Sim. Com as descobertas do laboratório servindo como “impressões digitais” moleculares, o James Webb pode procurar assinaturas espectrais idênticas em regiões distantes do espaço, confirmando a presença dessas moléculas.

Indicação de Leitura

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Sugestões de Links Externos (Outbound):

Fonte:Radical Isomerization upon Dissociative Electron Ionization of Anthracene and Phenanthrene
Journal of the American Chemical Society

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