Imagine recriar no laboratório o mesmo tipo de explosão energética que acontece a bilhões de anos-luz de distância, perto de buracos negros supermassivos. Parece ficção científica, não é? Porém, cientistas acabaram de conseguir exatamente isso. Pela primeira vez na história, pesquisadores recriaram bolas de fogo cósmicas no acelerador de partículas do CERN, na Suíça, para desvendar um dos mistérios mais intrigantes do universo: o caso dos raios gama desaparecidos.
Além disso, esse experimento revolucionário pode estar nos aproximando de uma descoberta ainda maior: campos magnéticos primordiais escondidos desde o nascimento do cosmos.

O Mistério dos Raios Gama Que Sumiram
Para entender essa história, primeiro precisamos falar sobre os blazars. Essas galáxias ativas são alimentadas por buracos negros supermassivos que lançam jatos de partículas e radiação em velocidades próximas à da luz, apontando diretamente para a Terra. Esses jatos produzem raios gama extremamente energéticos, detectados por telescópios terrestres.
Contudo, existe um problema. Quando esses raios gama viajam pelo espaço intergaláctico, eles colidem com a luz de fundo das estrelas, criando pares de elétrons e pósitrons. Esses pares deveriam, por sua vez, interagir com a radiação cósmica de fundo e gerar raios gama de menor energia. Dessa forma, satélites como o Fermi deveriam detectá-los facilmente.
Mas aqui está o mistério: esses raios gama de menor energia simplesmente não aparecem. Portanto, surge a pergunta: para onde eles foram?
Duas Hipóteses em Disputa
Até agora, os cientistas tinham duas explicações principais para o desaparecimento desses raios gama.
A primeira hipótese sugere que campos magnéticos fracos no espaço intergaláctico desviam os pares de partículas, fazendo com que os raios gama de menor energia sigam direções diferentes e não cheguem até nós.
Por outro lado, a segunda teoria, baseada na física de plasmas, propõe que os próprios feixes de pares se tornam instáveis ao atravessar o meio intergaláctico. Assim, pequenas flutuações no feixe geram correntes que criam campos magnéticos, reforçando a instabilidade e dissipando a energia do feixe.
Mas qual teoria estava correta? Era hora de testar essas ideias na prática.

O Experimento das Bolas de Fogo no CERN
Para resolver esse enigma, uma equipe internacional liderada pela Universidade de Oxford realizou algo sem precedentes. Utilizando o Super Proton Synchrotron do CERN, os pesquisadores criaram pares de elétrons e pósitrons e os enviaram através de um plasma de um metro de comprimento.
Dessa forma, eles construíram um modelo em escala de laboratório do que acontece quando cascatas de pares atravessam o plasma intergaláctico. O objetivo era simples: verificar se as instabilidades do feixe poderiam realmente perturbar os jatos cósmicos.
Os resultados foram surpreendentes. Contrariando as expectativas, o feixe de pares permaneceu estreito e quase paralelo, com perturbações mínimas e poucos campos magnéticos auto-gerados. Enquanto isso, os modelos teóricos previam um comportamento muito mais caótico.
Quando os cientistas extrapolaram esses dados para escalas astrofísicas, a conclusão foi clara: as instabilidades do feixe-plasma são fracas demais para explicar o sumiço dos raios gama de menor energia.

A Resposta Está nos Campos Magnéticos Primordiais
Portanto, o que sobra? A evidência agora aponta fortemente para a primeira hipótese: o meio intergaláctico contém campos magnéticos que desviam os raios gama para longe da nossa linha de visão.
Além disso, esses campos magnéticos provavelmente são relíquias do universo primitivo, formados nos primeiros momentos após o Big Bang. Isso abre uma janela fascinante para entender como o cosmos evoluiu desde seus estágios iniciais.
Segundo a equipe liderada pelo professor Gianluca Gregori, do Departamento de Física da Universidade de Oxford, esse estudo demonstra como experimentos de laboratório podem ajudar a preencher a lacuna entre teoria e observação, aprimorando nossa compreensão dos objetos astrofísicos.
Novas Perguntas, Novos Mistérios
Contudo, essa descoberta traz consigo novos enigmas. Se esses campos magnéticos são mesmo primordiais, como eles surgiram? O universo primitivo era extremamente uniforme, então como um campo magnético poderia ter sido “plantado” naquela fase inicial?
De acordo com os pesquisadores, a resposta pode envolver física além do Modelo Padrão. Assim, estamos falando de processos fundamentais que ainda não compreendemos completamente.
O professor Subir Sarkar, co-investigador do Departamento de Física da Universidade de Oxford, destacou que foi muito divertido fazer parte de um experimento inovador como esse, que adiciona uma dimensão nova à pesquisa de fronteira realizada no CERN. Além disso, ele espera que esse resultado marcante desperte o interesse da comunidade de física de plasmas para as possibilidades de explorar questões cósmicas fundamentais em laboratórios terrestres.
A Colaboração Por Trás da Descoberta
Esse feito científico não foi obra de uma única instituição. Pelo contrário, envolveu uma colaboração massiva entre a Universidade de Oxford, o Central Laser Facility do STFC, o próprio CERN, o Laboratory for Laser Energetics da Universidade de Rochester, AWE Aldermaston, Lawrence Livermore National Laboratory, o Max Planck Institute for Nuclear Physics, a Universidade da Islândia e o Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Dessa forma, o experimento chamado “Fireball” representa o poder da cooperação internacional na ciência de ponta, unindo expertise em aceleradores de partículas, física de plasmas e astrofísica.
O Futuro da Pesquisa de Raios Gama
Enquanto isso, os cientistas já estão de olho no próximo passo. Observatórios futuros, como o Cherenkov Telescope Array Observatory (CTAO), devem fornecer dados de altíssima resolução para testar essas ideias com ainda mais precisão.
Por fim, o Dr. Pablo Bilbao, também da Universidade de Oxford, ressaltou que, para um teórico, é extraordinário ver experimentos confirmando e ampliando ideias que, até recentemente, existiam apenas em simulações computacionais. Portanto, esses resultados demonstram o poder de combinar computação em larga escala com instalações experimentais de classe mundial.
Por Que Isso Importa Para Nós?
Você pode estar se perguntando: por que devo me importar com raios gama desaparecidos e campos magnéticos primordiais? A resposta é simples: essas descobertas nos ajudam a entender de onde viemos.
Além disso, elas revelam os processos físicos fundamentais que moldaram o universo desde seus primeiros instantes. Cada mistério resolvido nos aproxima um pouco mais de compreender nossa origem cósmica e nosso lugar nesse vasto cosmos.
Dessa forma, experimentos como o Fireball não são apenas sobre física de partículas ou astrofísica abstrata. Eles são sobre decifrar a história do universo e, por extensão, nossa própria história.
E Agora, O Que Vem Por Aí?
O experimento do CERN abriu portas que estavam fechadas há décadas. Agora, sabemos que as instabilidades de plasma não explicam o mistério dos raios gama desaparecidos. Portanto, a atenção se volta para esses campos magnéticos primordiais enigmáticos.
Assim, os próximos anos prometem ser emocionantes para a astrofísica. Com telescópios mais potentes e experimentos de laboratório cada vez mais sofisticados, estamos entrando numa nova era de descobertas cósmicas.
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Perguntas Frequentes
O que são blazars?
Blazars são galáxias ativas alimentadas por buracos negros supermassivos que lançam jatos de partículas e radiação em velocidades próximas à da luz, apontando diretamente para a Terra.
Por que os raios gama de menor energia estavam desaparecidos?
Quando raios gama de alta energia viajam pelo espaço, eles criam pares de elétrons e pósitrons que deveriam gerar raios gama de menor energia, mas esses não eram detectados por satélites como o Fermi.
O que o experimento Fireball descobriu?
O experimento mostrou que instabilidades de plasma são muito fracas para explicar o desaparecimento dos raios gama, sugerindo que campos magnéticos primordiais no espaço intergaláctico são os responsáveis.
O que são campos magnéticos primordiais?
São campos magnéticos que podem ter surgido nos primeiros momentos após o Big Bang e persistem até hoje no espaço intergaláctico, desviando partículas e radiação.
Como os cientistas recriaram bolas de fogo cósmicas?
Eles usaram o acelerador Super Proton Synchrotron do CERN para gerar pares de elétrons e pósitrons e enviá-los através de plasma, simulando o que acontece no espaço intergaláctico.
Por que essa descoberta é importante?
Ela nos aproxima de entender os processos físicos fundamentais do universo primitivo e pode revelar nova física além do Modelo Padrão atual da física de partículas.
Quais são os próximos passos dessa pesquisa?
Observatórios futuros como o Cherenkov Telescope Array Observatory fornecerão dados de alta resolução para testar essas teorias com mais precisão e explorar a natureza dos campos magnéticos primordiais.
