Na tarde de 7 de novembro de 2025, um tornado em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, trouxe destruição em escala impressionante. Com ventos que ultrapassaram 330 km/h, o fenômeno varreu grande parte da cidade, causando mortes, dezenas de feridos e deixando centenas de pessoas sem suas casas. Mas o que acontece depois que a tempestade passa? Como a ciência espacial brasileira entra em ação para ajudar na recuperação?
A resposta está a centenas de quilômetros de altura, orbitando nosso planeta. Enquanto equipes de resgate trabalhavam no terreno, satélites espaciais começaram a mapear cada metro quadrado da destruição, transformando imagens do espaço em ferramentas cruciais para salvar vidas e reconstruir uma cidade.

A Carta Internacional: quando o espaço se une em emergências
Assim que a dimensão do desastre ficou clara, o Brasil acionou um mecanismo global pouco conhecido do público, mas essencial em catástrofes: a Carta Internacional Espaço e Grandes Desastres. Dessa forma, 17 agências espaciais de diferentes países unem forças, disponibilizando imagens de 270 satélites gratuitamente para auxiliar nas operações de emergência.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) coordena a participação brasileira nessa iniciativa desde 2011. Portanto, quando a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil solicitou apoio, a resposta foi imediata. Em menos de 24 horas após o tornado, a ativação número 1.002 da Carta estava em operação — um marco que demonstra quantas vezes o mundo precisou dessa cooperação desde o ano 2000.
Alexandre Junqueira Homem de Mello, especialista em geoprocessamento do INPE, assumiu o papel de Gerente de Projeto. Além disso, equipes do CENSIPAM e do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres trabalharam em conjunto para processar as imagens que chegariam dos satélites.
Como satélites enxergam o rastro de um tornado
A tecnologia espacial permite algo que seria impossível no chão: ver toda a extensão do desastre de uma só vez. Contudo, não se trata apenas de tirar fotografias. Os especialistas do INPE realizam análises complexas, comparando imagens de antes e depois do tornado em Rio Bonito do Iguaçu para identificar cada mudança no território.
Casas destelhadas, prédios destruídos, árvores arrancadas pela raiz — tudo isso aparece nas imagens de alta resolução. Assim, os satélites CBERS-4, CBERS-4A (desenvolvidos em parceria com a China) e o brasileiro AMAZONIA-1 fornecem dados precisos sobre a área afetada.
“As imagens de satélite permitem quantificar o grau de destruição e entender a extensão do evento”, explica Laércio Namikawa, pesquisador do INPE e representante brasileiro na Carta. “A partir disso, as autoridades conseguem planejar de forma mais precisa onde concentrar os esforços emergenciais e de reconstrução.”

O que os mapas revelam
Os produtos gerados pelo INPE vão muito além de simples fotos. Enquanto isso, cada edifício danificado recebe uma classificação de acordo com o grau de destruição. Áreas coloridas nos mapas indicam onde a ajuda é mais urgente, onde as estruturas ainda resistem e quais locais ficaram completamente arrasados.
Por outro lado, o mapeamento também revela algo surpreendente: o rastro do tornado se estende além da área urbana. Os ventos devastadores continuaram seu caminho pela zona rural, deixando marcas visíveis na paisagem que só os satélites conseguem capturar em sua totalidade.



Dá para prever um tornado no Brasil?
A pergunta que todos fazem após um evento como o tornado em Rio Bonito do Iguaçu é: isso poderia ter sido previsto? A resposta é complexa, mas esperançosa.
Tornados são fenômenos extremamente difíceis de prever com precisão. Contudo, os cientistas conseguem identificar condições atmosféricas favoráveis à sua formação. Portanto, através de modelos numéricos, o INPE analisa fatores como instabilidade atmosférica, umidade, cisalhamento de vento (quando os ventos mudam de direção e intensidade em diferentes altitudes) e convergência de ar em baixos níveis.
Desde 2018, o Instituto oferece treinamentos especializados em previsão imediata de tempestades convectivas. Dessa forma, meteorologistas aprendem a identificar padrões em radares e satélites que indicam tempestades com potencial destrutivo — incluindo a formação de tornados.

Créditos: Diego Rhamon
O futuro da previsão meteorológica
Além disso, há uma novidade promissora no horizonte. O INPE está migrando seus modelos para o supercomputador Jaci, uma máquina com capacidade de processamento muito superior. Assim, será possível gerar previsões mais detalhadas e precisas, especialmente para eventos extremos.
A técnica de “previsão por conjuntos” permite que dezenas de simulações sejam rodadas simultaneamente para a mesma situação atmosférica. Por fim, ao comparar todos esses cenários, os cientistas conseguem calcular probabilidades mais confiáveis de que fenômenos severos ocorram em determinadas regiões.

Brasil na liderança da cooperação espacial
O envolvimento brasileiro na Carta Internacional não é apenas operacional é estratégico. Enquanto isso, o país já liderou o consórcio em 2021 e 2024, sediando reuniões com representantes das agências espaciais participantes. Portanto, em outubro de 2027, o Brasil assumirá novamente a liderança, reafirmando nosso papel no uso de tecnologia espacial para responder a emergências globais.
Os satélites brasileiros já contribuíram para mapear desastres em diversos países. Por outro lado, quando catástrofes acontecem em território nacional, recebemos imagens de satélites internacionais de alta resolução que complementam nossos próprios dados.
O trabalho que salva vidas continua
O processamento e análise das imagens do tornado em Rio Bonito do Iguaçu deve levar cerca de 10 dias. Contudo, os primeiros mapeamentos já estão sendo compartilhados com a Defesa Civil e autoridades locais, orientando onde enviar equipes de resgate, como distribuir recursos e quais áreas priorizar na reconstrução.
Cada pixel nas imagens de satélite representa uma informação que pode fazer a diferença entre vida e morte, entre reconstruir uma casa ou perder tudo. Assim, a ciência espacial se transforma em ferramenta de solidariedade e esperança.
Além das nuvens, a ciência que cuida
O episódio do tornado em Rio Bonito do Iguaçu nos lembra que a exploração espacial não é apenas sobre descobrir novos mundos distantes. Por fim, os satélites que orbitam nosso planeta todos os dias também estão aqui para nos proteger, nos ajudar e nos guiar quando a natureza mostra sua força mais implacável.
Enquanto a cidade paranaense se recupera, o trabalho silencioso e essencial dos cientistas brasileiros continua, unindo tecnologia de ponta com o compromisso de servir à sociedade. Porque ciência não é só curiosidade — é também cuidado.
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Perguntas Frequentes
O que causou o tornado em Rio Bonito do Iguaçu?
O tornado foi causado por uma tempestade convectiva severa, com condições atmosféricas que incluíram alta instabilidade, presença de umidade e cisalhamento de vento intenso. Assim, esses fatores se combinaram para gerar ventos superiores a 330 km/h.
Como os satélites ajudam após desastres naturais?
Satélites capturam imagens de alta resolução que permitem mapear áreas destruídas, identificar prédios danificados e calcular a extensão dos danos. Portanto, essas informações orientam equipes de resgate e planejamento de reconstrução.
O que é a Carta Internacional Espaço e Grandes Desastres?
É uma iniciativa que reúne 17 agências espaciais de diferentes países para disponibilizar imagens de 270 satélites gratuitamente durante emergências. Dessa forma, países afetados por catástrofes recebem apoio tecnológico internacional.
É possível prever tornados no Brasil?
Prever tornados com precisão exata é extremamente difícil. Contudo, meteorologistas conseguem identificar condições atmosféricas favoráveis à sua formação, permitindo alertas de risco para tempestades severas.
Quais satélites brasileiros participam do mapeamento de desastres?
O Brasil contribui com os satélites sino-brasileiros CBERS-4 e CBERS-4A, além do satélite nacional AMAZONIA-1. Além disso, recebe imagens de satélites internacionais quando necessário.
Quanto tempo leva para processar as imagens de um desastre?
O processamento e análise completos levam cerca de 10 dias, dependendo da complexidade dos dados. Contudo, os primeiros mapeamentos são disponibilizados rapidamente para orientar ações emergenciais imediatas.
O INPE oferece previsões meteorológicas para o público?
O INPE desenvolve modelos numéricos de previsão de tempo e clima que alimentam centros meteorológicos operacionais. Assim, essas previsões são distribuídas por órgãos especializados para a população.
Indicação de Leitura
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Todos os créditos de imagem e conteúdo reservados á Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Imagens, dados e informações utilizadas nesta matéria são de propriedade da INPE e foram disponibilizadas para fins educacionais e informativos.
Fonte: Matéria “INPE atua no mapeamento de danos após tornado em Rio Bonito do Iguaçu (PR)” Publicada no Site do INPE
