O rover Curiosity da NASA acaba de iniciar uma das fases mais empolgantes de sua missão em Marte: uma campanha de perfuração dupla nas enigmáticas estruturas chamadas boxworks. Entre os sols 4709 e 4715 (dias marcianos) (Data de planejamento da Terra: sexta-feira, 7 de novembro de 2025), o explorador robótico perfurou dois alvos estratégicos — um em um vale baixo e outro no topo de uma crista próxima. Essa investigação promete revelar pistas sobre a história geológica do Planeta Vermelho e, quem sabe, sobre a possibilidade de vida microbiana antiga.

A Busca por Boxworks: Duas Perfurações, Dois Mundos
As boxworks são formações geológicas fascinantes que lembram colmeias de abelhas feitas de rocha. Essas estruturas em relevo podem conter minerais depositados por água antiga, tornando-as alvos científicos valiosos. Segundo a equipe da missão Mars Science Laboratory, encontrar locais adequados para perfuração nessas áreas não foi tarefa fác.
Durante duas semanas, o Curiosity trabalhou em um alvo chamado “Valle de la Luna”, localizado no piso de uma grande depressão chamada “Monte Grande”. O desafio aqui era óbvio: os vales baixos geralmente estão cobertos por areia e pequenas pedras, com pouca rocha exposta. Após concluir a perfuração no Valle de la Luna, o rover se moveu rapidamente cerca de 10 metros até uma crista próxima, onde perfurou seu segundo alvo.
Além disso, a escolha dos nomes dos alvos reflete perfeitamente essa jornada topográfica. Valle de la Luna homenageia uma região de vales no Deserto do Atacama, no Chile, um dos lugares mais secos da Terra, com paisagens esculpidas que poderiam facilmente ser confundidas com a Cratera Gale em Marte.

Nevado Sajama: Do Vale ao Pico em Apenas 10 Metros
Embora a diferença de elevação entre o vale e a crista seja de apenas 2 metros, a equipe decidiu nomear o segundo alvo de forma grandiosa. “Nevado Sajama” é um vulcão extinto e o pico mais alto da Bolívia. Assim, o Curiosity simbolicamente escalou das profundezas de um vale marciano até o “topo” de Marte — ou pelo menos dessa pequena região.
Dessa forma, no dia de “perfuração sol zero”, o rover executou um pequeno deslocamento de posicionamento (chamado de “bump” pela equipe) para alinhar-se perfeitamente com o alvo Nevado Sajama. Esses ajustes finos geralmente envolvem movimentos de menos de 2 metros, garantindo que os instrumentos do Curiosity possam realizar análises precisas.
Por outro lado, o “Sol 1” de perfuração focou em testar a coerência da rocha. Os planejadores do rover precisavam avaliar se o bloco rochoso suportaria a pressão da broca sem se desintegrar. Instrumentos como APXS (Alpha Particle X-Ray Spectrometer) e ChemCam analisaram a composição química da rocha escovada, enquanto a câmera MAHLI capturou imagens detalhadas da superfície.

A Ciência Por Trás da Perfuração: O Que Buscamos?
Por que perfurar Marte? A resposta está nas camadas. Enquanto a superfície marciana é constantemente bombardeada por radiação cósmica e alterada por processos de erosão, o material abaixo da superfície preserva registros químicos e mineralógicos do passado distante do planeta. Portanto, cada perfuração é como abrir uma cápsula do tempo geológica.
As boxworks são especialmente interessantes porque podem ter se formado quando minerais foram depositados em fraturas rochosas por água subterrânea. Contudo, ao longo do tempo, a rocha ao redor sofreu erosão, deixando apenas essas estruturas em relevo. Analisar sua composição pode revelar informações sobre a química da água antiga, condições de pH e potencial habitabilidade.
Além disso, comparar as amostras do Valle de la Luna (no vale baixo) com as do Nevado Sajama (na crista) permite que os cientistas determinem se essas áreas têm composições homogêneas ou heterogêneas. Essa comparação é crucial para entender se os processos geológicos atuaram uniformemente na região ou se houve variações locais significativas.

Dois Anos de Planejamento Para Este Momento
A campanha de perfuração nas boxworks não aconteceu da noite para o dia. Segundo Catherine O’Connell-Cooper, planejadora estratégica do APXS e líder de uplink/downlink da Universidade de New Brunswick, no Canadá, o grupo focal da campanha boxwork se reuniu regularmente por dois anos. Esses encontros envolveram apresentações, sessões de brainstorming e planejamento detalhado para garantir o sucesso da missão.
Assim, quando o Curiosity finalmente posicionou sua broca no Nevado Sajama em 4 de novembro de 2025 (Sol 4709), foi a culminação de anos de trabalho colaborativo. A equipe utilizou diversas câmeras de navegação para monitorar o progresso, incluindo a Left Navigation Camera, que capturou imagens do local de perfuração.
Enquanto isso, outros instrumentos científicos coletaram dados complementares. O ChemCam analisou um alvo chamado “Luna Muerte”, enquanto a MAHLI imageou “Sipe Sipe”, uma área de rocha recém-quebrada quando o rover passou sobre ela. Essas análises múltiplas fornecem um quadro detalhado da geologia local.
Desafios de Perfurar em Marte
Perfurar rochas em outro planeta apresenta desafios únicos. Em Marte, a gravidade é cerca de 38% da terrestre, o que afeta a estabilidade do rover durante a perfuração. Além disso, as temperaturas marcianas podem cair para -125°C à noite, afetando os componentes mecânicos e eletrônicos do Curiosity.
Por fim, a comunicação com a Terra também é um desafio. Os comandos enviados para o rover levam entre 5 e 20 minutos para chegar, dependendo da posição relativa dos planetas. Portanto, o Curiosity precisa operar com considerável autonomia, tomando decisões locais quando necessário.
Contudo, a equipe da missão desenvolveu procedimentos robustos ao longo dos mais de 4.700 sols de operação do Curiosity. A experiência acumulada permitiu que a campanha de perfuração das boxworks fosse executada com eficiência notável.

O Que Vem a Seguir?
Com as perfurações concluídas no Valle de la Luna e no Nevado Sajama, a próxima etapa envolve análises laboratoriais detalhadas do material coletado. Os instrumentos do Curiosity processarão as amostras de rocha pulverizada, buscando minerais específicos, compostos orgânicos e assinaturas químicas de ambientes habitáveis.
Dessa forma, os dados coletados serão transmitidos para a Terra, onde cientistas de todo o mundo os analisarão. Cada descoberta adiciona uma peça ao quebra-cabeça da história marciana, ajudando-nos a entender como o planeta evoluiu de um mundo potencialmente habitável para o deserto frio que conhecemos hoje.
Marte Ainda Tem Muitos Segredos Para Revelar
A campanha de perfuração nas boxworks representa um marco significativo na exploração de Marte. Ao perfurar estrategicamente em diferentes elevações topográficas, o Curiosity está coletando dados que podem transformar nossa compreensão da geologia marciana. Essas estruturas únicas podem guardar evidências de sistemas hidrotermais antigos ou de condições que, um dia, poderiam ter suportado vida microbiana.
À medida que o Curiosity continua sua jornada pela Cratera Gale, cada perfuração, cada análise química e cada imagem nos aproxima de responder à pergunta fundamental: Marte já foi habitável? E, talvez ainda mais intrigante, poderia ter abrigado vida?
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FAQ: Sobre o Curiosity e a perfuração em Marte
Boxworks são estruturas rochosas em relevo que se formam quando minerais preenchem fraturas na rocha. Com o tempo, a rocha ao redor sofre erosão, deixando apenas essas formações que lembram colmeias.
Perfurar permite acessar material rochoso abaixo da superfície, que preserva melhor os registros químicos e mineralógicos do passado marciano, incluindo possíveis evidências de água antiga.
O Curiosity pousou em Marte em agosto de 2012 e já completou mais de 4.700 sols (dias marcianos) de operação, superando em muito sua missão planejada de dois anos.
Sol 1 de perfuração é o dia em que o rover testa a coerência da rocha antes da perfuração completa, usando instrumentos para analisar a composição e garantir que a rocha suportará a broca.
O rover utiliza vários instrumentos, incluindo ChemCam (laser para análise química), APXS (espectrômetro de raios-X), MAHLI (câmera microscópica) e CheMin (difratômetro de raios-X para mineralogia).
Não diretamente. A equipe nomeou o alvo de perfuração em homenagem ao Valle de la Luna no Deserto do Atacama, uma região árida com paisagens que lembram superfícies marcianas.
Até agora, o Curiosity não encontrou evidências diretas de vida, mas descobriu que Marte já teve condições habitáveis, com água líquida e química favorável para a vida microbiana.
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Todos os créditos de imagem Reservados à NASA.
Imagens, dados e informações utilizadas nesta matéria são de propriedade da NASA e foram disponibilizadas para fins educacionais e informativos.
Fonte: Artigo “Curiosity Blog, Sols 4709-4715: Drilling High and Low in the Boxwork Unit” Publico em nasa.gov
