O Sistema de Navegação Inercial Brasileiro
O (SNI) Sistema de Navegação Inercial brasileiro está prestes a encarar o seu maior desafio. Em um movimento que reforça a soberania e a capacidade tecnológica nacional, a Agência Espacial Brasileira (AEB) prepara-se para testar essa plataforma de navegação de ponta a bordo do foguete Hanbit-Nano, da empresa sul-coreana Innospace. Este lançamento, marcado para o final do ano a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), não é apenas mais um voo; ele representa um salto quântico para a indústria espacial do Brasil. Afinal, o que torna este equipamento tão crucial e por que o seu sucesso pode redefinir o futuro da exploração espacial brasileira?

Créditos: Innospace / FAB / AEB
A exploração espacial sempre foi um campo de sonhos e de disputas tecnológicas. Para o Brasil, garantir o acesso autônomo ao espaço é uma prioridade estratégica. É nesse contexto que o Sistema de Navegação Inercial GNSS entra em cena. Desenvolvido por um consórcio de empresas nacionais — Concert Space, CRON Sistemas e HORUSEYE TECH — o SNI é, em essência, o cérebro de um veículo lançador. Ele é o responsável por guiar o foguete com precisão milimétrica, garantindo que a carga útil chegue ao ponto exato no espaço. A tecnologia, fruto de uma estratégica Encomenda Tecnológica da AEB, será enviada como carga útil secundária, com o objetivo primordial de verificar seu desempenho em um ambiente real e extremo. Além disso, este teste é a chave para desbloquear a chamada “herança de voo”, um selo de credibilidade indispensável para que o produto possa ser oferecido no mercado global. A expectativa é alta, pois o sucesso do SNI a bordo do Hanbit-Nano pode significar a consolidação de uma tecnologia vital para o Programa Espacial Brasileiro.
O Coração da Missão Polaris: O SNI em Detalhes
O SNI é o principal equipamento de um sistema de controle para veículos lançadores. Sua função é determinar, com precisão inquestionável, a velocidade, a atitude (orientação) e a posição do veículo durante toda a jornada até o espaço. Pense nele como o GPS superpoderoso e ultrarresistente de um foguete. Dessa forma, ele assegura que a trajetória esteja correta e que os satélites sejam liberados no ponto ideal da órbita terrestre. A complexidade dessa tarefa exige uma tecnologia robusta e inovadora, capaz de suportar as condições extremas de um lançamento.
O equipamento reúne o que há de mais moderno em sensores e processamento. Ele é composto por sensores inerciais de tecnologia MEMS (Sistemas Microeletromecânicos), que são pequenos, leves e de custo mais acessível. Além disso, conta com eletrônica de processamento avançada, um receptor GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite) espacial e um computador de navegação. Este computador é o maestro, executando os softwares de navegação inercial e de fusão com os dados GNSS. Enquanto isso, a fusão de dados é a grande sacada tecnológica. Ela permite que o Sistema de Navegação Inercial GNSS utilize sensores de média precisão, combinando suas informações com a precisão do GNSS. Essa técnica, que substitui os caríssimos e complexos sensores inerciais de alta precisão, segue a tendência dos lançadores modernos. Portanto, o Brasil está alinhado com o que há de mais eficiente e inovador no mercado espacial global. O domínio dessa técnica de fusão é o que confere ao SNI sua relevância estratégica.

A Estratégia da Encomenda Tecnológica da AEB
A criação do SNI por meio de uma Encomenda Tecnológica (ET) da AEB não foi um acaso. Foi uma estratégia deliberada e de longo alcance, focada em construir a soberania tecnológica brasileira. O Presidente da AEB, Marco Antonio Chamon, destaca que as ETs são um instrumento estratégico para o Brasil. Portanto, elas impulsionam o domínio de tecnologias críticas, estimulam a inovação e, crucialmente, ampliam a capacidade do país de responder a desafios de desenvolvimento com soluções próprias. Trata-se de um investimento no futuro, garantindo que o Brasil não dependa de terceiros para acessar o espaço.
O CEO da Concert Space, Rafael Mordente, reforça essa visão, chamando a ET de uma estratégia “absolutamente acertada”. Ele explica que o desenvolvimento dessa tecnologia é vital, pois ela é praticamente impossível de ser importada devido a restrições internacionais de transferência de tecnologia. Contudo, o Sistema de Navegação Inercial GNSS é fundamental para o sistema de controle de qualquer veículo lançador de satélites. Assim, dominar essa técnica garante a autonomia nacional no acesso ao espaço, um pilar da segurança e do desenvolvimento científico. Além disso, a versatilidade do SNI é notável: ele pode ser aplicado em sistemas de IoT, drones e outros veículos aéreos, terrestres e marítimos, mostrando o vasto potencial de mercado da tecnologia. Essa capacidade de aplicação em múltiplos setores é um bônus estratégico para a indústria nacional.
A Prova de Fogo: Por Que o Teste é Crucial
O teste a bordo do foguete Hanbit-Nano, na chamada “Missão Polaris”, é o momento da verdade. O nome da missão é uma referência histórica à estrela usada na navegação, simbolizando a função do SNI como uma base estável e confiável para o guiamento do lançador. O teste irá avaliar o comportamento do Sistema de Navegação Inercial GNSS sob as condições extremas típicas de um lançamento. Isso inclui vibrações intensas, choques, acelerações elevadas e a exposição ao ambiente hostil do espaço. É um verdadeiro batismo de fogo para a tecnologia brasileira.
A fase de integração ao veículo lançador, concluída com sucesso em novembro, foi um passo crucial. Ela incluiu a verificação da comunicação via telemetria, garantindo que os dados de desempenho do SNI serão transmitidos em tempo real para a Terra. Além disso, este marco confirmou a prontidão do equipamento para os ensaios da “Missão Polaris”. A validação da tecnologia é essencial para a obtenção da “herança de voo”. Este termo técnico significa que o equipamento provou sua funcionalidade em voo real, um pré-requisito para a credibilidade no mercado espacial. Por outro lado, sem essa herança, é quase impossível comercializar o produto no setor espacial, que exige provas concretas de desempenho. O domínio dessas técnicas de fusão de sensores ainda é restrito a poucos países, o que eleva a relevância estratégica do sucesso brasileiro neste teste. Assim, a Missão Polaris não é apenas um teste, mas a porta de entrada do SNI para o mercado global.

Os Arquitetos do Futuro Espacial Brasileiro
Por trás do Sistema de Navegação Inercial GNSS estão três empresas brasileiras com vasta experiência e um histórico de contribuições para o Programa Espacial Brasileiro. Elas formam o consórcio que deu vida ao SNI.
A Concert Space, parte do grupo Concert Technologies, é uma veterana que apoia o Programa Espacial Brasileiro há mais de 30 anos. Ela se destaca no segmento aeroespacial e de defesa, sendo responsável pelo fornecimento de diversos sistemas de preparo, lançamento e rastreio de operações para o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e a Barreira do Inferno. Além disso, a empresa está na vanguarda de iniciativas de New Space, como o Microlançador Brasileiro (MLBR) e o projeto BIFROST, que visa a operação de uma constelação de satélites de imageamento.
A HORUSEYE TECH, fundada em 2016, é especializada no desenvolvimento completo de sistemas de navegação, guiamento e controle de veículos aéreos e espaciais. Sua expertise em algoritmos e simulações de bordo foi fundamental para o desenvolvimento do SNI. Desde 2018, a empresa também se dedica a plataformas para cubesats, oferecendo soluções de hardware e software que a colocam como uma peça-chave na inovação espacial.
Por fim, a CRON traz em seu DNA a história da exploração espacial brasileira. Fundada por ex-funcionários do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica), seus fundadores participaram do desenvolvimento dos primeiros satélites brasileiros, o SCD-1 e 2, e do programa CBERS. A CRON desenvolve missões espaciais completas, desde a concepção até a operação, e trabalha com o uso de dados para SatIoT e gestão agrícola. A união dessas três forças garante que o Sistema de Navegação Inercial GNSS seja um produto de alta qualidade e confiabilidade.
O Próximo Capítulo do Sistema de Navegação Inercial brasileiro
O teste do SNI no foguete Hanbit-Nano é mais do que um experimento técnico. Ele é um símbolo da capacidade de inovação e da resiliência da ciência brasileira. A colaboração entre a AEB, a Innospace e as empresas nacionais demonstra um modelo de sucesso para o desenvolvimento de tecnologias críticas. Portanto, o Brasil está pavimentando seu caminho para se tornar um player relevante no cenário do New Space global. O sucesso da “Missão Polaris” não apenas valida um equipamento, mas também abre as portas para a comercialização e o uso soberano do espaço.
A jornada do Sistema de Navegação Inercial GNSS até o espaço é uma prova de que a ciência e a tecnologia brasileiras têm potencial para competir no mais alto nível. O domínio de tecnologias como o SNI é o que define as nações com acesso autônomo ao espaço. Este avanço tecnológico nos lembra que o futuro não é algo que esperamos, mas algo que construímos com ciência, audácia e muita engenharia. Qual será o próximo grande desafio que a Tecnologia Espacial Brasileira irá superar, agora que o SNI está pronto para voar?
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FAQ – Perguntas Frequentes sobre o Sistema de Navegação Inercial brasileiro e a Missão Polaris
O que é o Sistema de Navegação Inercial GNSS (SNI)?
O SNI é uma plataforma de navegação desenvolvida no Brasil que atua como o principal sistema de controle de um foguete, determinando sua posição, velocidade e atitude durante o voo.O que significa “Encomenda Tecnológica” da AEB?
É um instrumento estratégico da Agência Espacial Brasileira (AEB) para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias críticas, estimular a inovação nacional e fortalecer a soberania tecnológica do país.Onde o SNI será testado?
O SNI será testado a bordo do foguete Hanbit-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, com lançamento previsto a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).O que é “Herança de Voo” e por que ela é importante?
“Herança de Voo” é a certificação de que um equipamento funcionou com sucesso em um voo real. Esse reconhecimento é essencial para validar o SNI, aumentar sua credibilidade e permitir sua futura comercialização no setor espacial.Além de foguetes, onde mais o SNI pode ser aplicado?
A tecnologia é versátil e pode ser usada em sistemas de IoT, drones, veículos terrestres, marítimos e outras plataformas que dependem de navegação precisa.Quais empresas brasileiras desenvolveram o SNI?
O SNI foi criado por um consórcio de empresas nacionais: Concert Space, CRON Sistemas e HORUSEYE TECH.Qual é o objetivo da “Missão Polaris”?
A Missão Polaris tem como meta validar o desempenho do SNI em condições reais de lançamento, garantindo sua maturidade tecnológica para aplicações futuras em veículos lançadores brasileiros.Indicação de Leitura
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Fonte: Artigo “Encomenda Tecnológica da AEB será testada em foguete da Innospace” Publicado em gov.br/aeb
