Imagine testemunhar uma explosão tão poderosa que só perde para o Big Bang. Agora imagine que essa explosão não durou segundos, nem minutos, mas mais de sete horas. É exatamente isso que os astrônomos observaram em julho de 2025, quando detectaram o maior surto de raios gama da história um evento cósmico que está reescrevendo o que sabemos sobre as explosões mais violentas do Universo.
O evento, batizado de GRB 250702B, começou no dia 2 de julho e deixou os cientistas de todo o mundo em alerta. Diferente dos surtos típicos que piscam e desaparecem rapidamente, este se manteve ativo por horas, lançando pulsos repetidos de energia através do cosmos. Assim, telescópios em vários continentes se uniram para capturar cada detalhe dessa manifestação extrema da natureza.

Créditos: Artist’s illustration / Observations: Dark Energy Camera, Gemini Observatory, NSF / NOIRLab
O Que São os Surtos de Raios Gama e Por Que Eles Importam
Os surtos de raios gama são as explosões mais luminosas e energéticas conhecidas no Universo. Quando ocorrem, liberam em poucos segundos a mesma quantidade de energia que o Sol produzirá durante toda a sua vida de 10 bilhões de anos. Além disso, esses eventos acontecem em galáxias distantes, a bilhões de anos-luz de distância.
A maioria dos surtos de raios gama dura apenas alguns segundos ou, no máximo, alguns minutos. Portanto, quando o Telescópio Espacial Fermi da NASA detectou sinais de um surto que continuava emitindo pulsos após horas, os astrônomos perceberam que estavam diante de algo extraordinário. Dessa forma, uma corrida global começou para apontar os mais poderosos telescópios terrestres em direção a essa fonte misteriosa.
Desde que os surtos de raios gama foram descobertos em 1973, já observamos cerca de 15 mil desses eventos. Contudo, apenas meia dúzia deles se aproxima da duração do GRB 250702B, tornando este um dos fenômenos mais raros já documentados.

Créditos: NASA’s Goddard Space Flight Center / Chris Smith (USRA/GESTAR)
A Caçada Cósmica: Como os Cientistas Rastrearam a Explosão
Jonathan Carney, estudante de pós-graduação da Universidade da Carolina do Norte, liderou uma equipe internacional que se mobilizou rapidamente. Eles utilizaram três dos telescópios mais potentes do planeta: o telescópio Blanco de 4 metros no Chile e os telescópios gêmeos Gemini, localizados no Havaí e no Chile, cada um com 8,1 metros de diâmetro.
A estratégia era capturar o “brilho residual” do surto — a luz que continua sendo emitida após a explosão inicial. Por outro lado, esse brilho contém pistas cruciais sobre a natureza do evento que causou a explosão. As observações começaram cerca de 15 horas após a detecção inicial e continuaram por 18 dias.
Enquanto isso, outros telescópios ao redor do mundo se juntaram ao esforço. O Very Large Telescope da Europa, o telescópio Hubble, o Observatório Keck no Havaí e diversos observatórios de raios-X e ondas de rádio contribuíram com dados. Assim, foi montado um quebra-cabeça observacional sem precedentes.

Créditos: NASA, ESA, CSA, H. Sears (Rutgers). Processamento de imagem: A. Pagan (STScI)
O Mistério da Galáxia Invisível Coberta de Poeira
Uma das descobertas mais intrigantes foi que o GRB 250702B estava completamente invisível na luz visível comum. Inicialmente, os astrônomos pensaram que a poeira da Via Láctea pudesse estar bloqueando a visão. Entretanto, análises mais profundas revelaram que a principal culpada era a própria galáxia hospedeira do surto.
A galáxia onde ocorreu essa explosão é extremamente massiva e incrivelmente empoeirada — muito mais do que a maioria das galáxias que hospedam surtos de raios gama. De acordo com os dados coletados, existe uma imensa quantidade de poeira ao redor do local da explosão, possivelmente uma densa faixa de poeira na linha de visão entre a Terra e a fonte do surto.
O telescópio Gemini North precisou observar por quase duas horas apenas para capturar um sinal fraco da galáxia através de toda essa poeira. Dessa forma, os cientistas conseguiram caracterizar o ambiente extremo onde esse evento extraordinário ocorreu.
Teorias Sobre a Origem: O Que Causou Essa Explosão Épica
Agora vem a parte mais fascinante: o que exatamente causou esse surto recorde? Os cientistas têm três hipóteses principais, e todas são igualmente impressionantes:
A Hipótese do Buraco Negro e a Estrela de Hélio
A primeira teoria sugere que um buraco negro pode ter caído em uma estrela que já perdeu todo seu hidrogênio e agora é quase pura hélio. Portanto, essa colisão violenta teria gerado o jato de material em alta velocidade que observamos como surto de raios gama.
Micro-Ruptura por Maré: Quando Estrelas Devoram Planetas
Outra possibilidade envolve uma estrela ou até mesmo um planeta ou anã marrom, sendo despedaçada durante um encontro próximo com um objeto compacto, como um buraco negro estelar ou uma estrela de nêutrons. Assim, esse evento, chamado de micro-ruptura por maré, poderia explicar as características únicas do GRB 250702B.
O Santo Graal: Buraco Negro de Massa Intermediária
A terceira teoria é, de longe, a mais empolgante. Pode ser que uma estrela tenha sido dilacerada ao cair em um buraco negro de massa intermediária — um tipo de buraco negro com massa entre cem e cem mil vezes a massa do Sol. Esses objetos são extremamente difíceis de encontrar, mas acredita-se que existam em grande quantidade no Universo.
Se essa hipótese estiver correta, este seria o primeiro registro na história da humanidade de um jato relativístico produzido por um buraco negro de massa intermediária devorando uma estrela. Contudo, mais observações são necessárias para confirmar essa possibilidade revolucionária.
O Jato Relativístico: Velocidade Próxima à da Luz
As análises revelaram que o sinal inicial de raios gama provavelmente veio de um jato estreito de material viajando em velocidades próximas à da luz — o que os cientistas chamam de jato relativístico. Quando esse jato colidiu com o material ao redor, gerou a intensa emissão de raios gama que detectamos.
Além disso, os dados mostraram que o ambiente ao redor do surto é denso e empoeirado, criando condições únicas que podem explicar por que esse evento foi tão diferente de todos os outros já observados. Por fim, essas informações fornecem restrições importantes sobre o sistema que produziu a explosão inicial.
Uma Janela Para o Passado Distante do Universo
“Este trabalho apresenta um fascinante problema de arqueologia cósmica no qual estamos reconstruindo os detalhes de um evento que ocorreu a bilhões de anos-luz de distância”, explica Carney. Dessa forma, cada fóton de luz capturado pelos telescópios carrega informações sobre um passado extremamente distante.
A descoberta de mistérios cósmicos como este demonstra o quanto ainda estamos aprendendo sobre os eventos mais extremos do Universo. Assim, nos lembra de continuar imaginando o que pode estar acontecendo nas profundezas do espaço.
O Futuro das Observações de Surtos de Raios Gama
A capacidade de apontar rapidamente telescópios poderosos para eventos transitórios como este é crucial para nossa compreensão do cosmos dinâmico. Portanto, observatórios como o Blanco e os telescópios Gemini desempenham um papel fundamental em capturar esses momentos fugazes antes que desapareçam para sempre.
Enquanto isso, novos instrumentos e telescópios estão sendo desenvolvidos para melhorar ainda mais nossa capacidade de detectar e estudar esses fenômenos extremos. Cada nova observação nos aproxima de desvendar os segredos das explosões mais poderosas do Universo.
Perguntas Frequentes Sobre o Maior Surto de Raios Gama
Quanto tempo durou o surto de raios gama GRB 250702B?
O GRB 250702B durou mais de sete horas, tornando-se o surto de raios gama mais longo já registrado na história das observações astronômicas.O que causa um surto de raios gama?
Surtos de raios gama são provocados por eventos extremos, como o colapso de estrelas massivas, fusões de estrelas de nêutrons ou objetos sendo despedaçados por buracos negros.Por que o GRB 250702B não pôde ser visto na luz visível?
A galáxia hospedeira do surto é extremamente empoeirada, e essa poeira absorve a luz visível, permitindo que apenas radiação infravermelha e outras frequências consigam atravessar.Qual a distância do GRB 250702B da Terra?
O evento ocorreu a bilhões de anos-luz de distância, em uma galáxia muito além da Via Láctea.O que é um jato relativístico?
É um fluxo estreito de material ejetado em velocidades próximas à da luz, geralmente produzido por buracos negros ou estrelas de nêutrons durante eventos cataclísmicos.Quantos surtos de raios gama já foram observados?
Desde sua descoberta em 1973, cerca de 15 mil surtos de raios gama foram detectados por telescópios espaciais e terrestres.O que são buracos negros de massa intermediária?
São buracos negros com massas entre cem e cem mil vezes a massa do Sol, situando-se entre buracos negros estelares e supermassivos.O GRB 250702B nos mostrou que o Universo ainda guarda surpresas capazes de desafiar nosso conhecimento. Cada explosão cósmica, cada destello de luz viajando pelo espaço-tempo, carrega histórias de eventos que moldaram galáxias inteiras muito antes da Terra existir.
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Fonte: Artigo “Gemini and Blanco Telescopes Unlock Clues to Origin of Longest Gamma-ray Burst Ever Observed” Publicado em noirlab.edu
