Imagine uma viagem de sete anos pelo Sistema Solar, enfrentando o calor escaldante de Vênus, a radiação intensa do Sol e as sombras congelantes de Mercúrio. Essa é a jornada épica da missão BepiColombo, que está a apenas um ano de finalmente chegar ao planeta mais misterioso e menos explorado do nosso Sistema Solar. Em novembro de 2026, duas espaçonaves vão entrar em órbita ao redor de Mercúrio para desvendar segredos que intrigam cientistas há décadas.
A BepiColombo, uma colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), foi lançada em outubro de 2018 com uma missão ambiciosa: estudar o menor planeta rochoso do Sistema Solar de forma mais completa do que nunca. Assim, depois de passar pela Terra uma vez, por Vênus duas vezes e por Mercúrio seis vezes, a missão está prestes a iniciar sua fase científica mais importante.

Uma Jornada de Acrobacias Gravitacionais e Descobertas Surpreendentes
A trajetória até Mercúrio não foi nada simples. Aliás, chegar ao planeta mais próximo do Sol exige uma série de manobras gravitacionais complexas, como um jogo de bilhar cósmico onde cada encontro planetário ajusta a velocidade e direção da espaçonave. Durante esses sete anos, a BepiColombo aproveitou cada sobrevoo não apenas para economizar combustível, mas também para coletar dados científicos valiosos.
Um dos destaques dessa jornada foi o estudo do campo magnético de Mercúrio durante cada aproximação. Diferente da Terra, que possui um campo magnético robusto, Mercúrio tem uma proteção magnética muito mais tênue. Contudo, essa “bolha” magnética é crucial para proteger a superfície do planeta do vento solar, um fluxo constante de partículas energéticas expelidas pelo Sol.
Por outro lado, como Mercúrio orbita tão perto do Sol, onde o vento solar é mais denso e possui seu próprio campo magnético mais forte, essa bolha protetora muda constantemente de tamanho e forma. Portanto, entender como funciona esse escudo magnético é uma das principais missões da BepiColombo.
As Câmeras Selfie Que Viraram Sensação
Além disso, quem diria que câmeras de monitoramento se tornariam estrelas da missão? As M-CAMs, instaladas no Módulo de Transferência de Mercúrio (MTM), foram originalmente projetadas apenas para verificar o estado da espaçonave. Entretanto, elas capturaram centenas de imagens impressionantes dos planetas visitados, cada uma com resolução de 1024×1024 pixels.
Essas “selfies espaciais” mostraram a Terra girando enquanto a BepiColombo se aproximava, Vênus brilhante justificando seu apelido de “Estrela da Manhã”, e a superfície cheia de crateras, vulcões e planícies de Mercúrio. Dessa forma, o público pode acompanhar a jornada de maneira visual e empolgante, transformando dados científicos em imagens que inspiram curiosidade.
Enquanto isso, os instrumentos de bordo também criaram “sonificações” — gravações sonoras baseadas nos dados coletados durante os sobrevoos. Os acelerômetros da espaçonave capturaram os puxões gravitacionais, os efeitos das mudanças de temperatura ao entrar e sair das sombras dos planetas, e até movimentos dos componentes da nave. É como ouvir a “música” que uma espaçonave “sente” ao passar por um mundo alienígena.


Por Que a BepiColombo Já Fotografou Mercúrio, Mas Ainda Não Está em Órbita?
Mesmo já tendo passado seis vezes por Mercúrio, a BepiColombo ainda não entrou em órbita do planeta. Isso acontece porque a sonda segue uma trajetória extremamente complexa, baseada em uma longa sequência de flybys — sobrevoos planejados para usar a gravidade de outros corpos celestes como “freio natural”. Sem isso, seria impossível desacelerar o suficiente para ser capturada pela fraca gravidade de Mercúrio sem gastar combustível em excesso.
Cada sobrevoo ajusta a velocidade e direção da sonda, permitindo que ela se aproxime gradualmente do planeta. É por isso que, apesar de já ter passado perto o bastante para registrar imagens incríveis, a BepiColombo ainda está em fase de transferência e não em sua missão científica principal. A ESA considera como “chegada” o momento em que a sonda finalmente realizará a inserção orbital — prevista para novembro de 2026. Somente então seus dois orbitadores, MPO e Mio, serão separados e começarão a operar em órbitas dedicadas ao estudo profundo de Mercúrio.

Dois Espaçonaves, Duas Perspectivas Únicas
A BepiColombo será a primeira missão a estudar Mercúrio com duas espaçonaves simultaneamente. A MPO (Orbitador Planetário de Mercúrio) da ESA orbitará próximo à superfície do planeta, enquanto a Mio (Orbitador Magnetosférico de Mercúrio) da JAXA seguirá uma órbita elíptica maior. Assim, cada nave terá uma perspectiva complementar, permitindo uma análise tridimensional do planeta e seu ambiente.
Atualmente, ambas as espaçonaves estão “empilhadas” junto ao MTM, seu motor confiável. Porém, vários instrumentos científicos não podem ser utilizados em plena capacidade até que as naves se separem após a chegada em novembro de 2026. Portanto, os cientistas aguardam ansiosamente esse momento crucial.
O Que Vem Depois da Separação?
Uma vez separadas, as possibilidades científicas se multiplicam exponencialmente. A MPO, por exemplo, poderá finalmente usar suas câmeras de alta resolução para mapear a superfície de Mercúrio em raios-X, luz visível, infravermelho próximo e infravermelho térmico. Além disso, o altímetro a laser BELA medirá com precisão milimétrica a altura e forma da superfície mercuriana.
Esses dados combinados criarão um mapa detalhado que revelará a composição do planeta, como ele se formou, como muda ao longo do tempo e quais são suas temperaturas superficiais. Por outro lado, ao sobrevoar os polos de Mercúrio, a MPO conseguirá investigar crateras permanentemente sombreadas — justamente onde cientistas acreditam que pode haver água congelada, mesmo em um planeta tão próximo do Sol.
Enquanto isso, a Mio utilizará seus magnetômetros e detectores de partículas com sensibilidade aprimorada para estudar a magnetosfera de Mercúrio. Adicionalmente, após a separação, essa espaçonave japonesa ativará seu imageador de sódio MSASI e detector de poeira MDM para investigar outros materiais próximos ao planeta.
Mistérios Que Aguardam Respostas
Mercúrio guarda enigmas fascinantes que desafiam nossa compreensão do Sistema Solar. Como um planeta tão pequeno ainda possui um núcleo de ferro líquido capaz de gerar campo magnético? Por que sua superfície é tão cheia de crateras em algumas regiões e apresenta vastas planícies vulcânicas em outras? Existe mesmo água escondida nos polos?
Dessa forma, a BepiColombo não está apenas explorando um planeta — está reescrevendo o que sabemos sobre a formação e evolução dos mundos rochosos. As operações científicas começarão no início de 2027, com uma missão nominal de um ano e possível extensão de mais 1,5 ano.
Uma Conquista da Colaboração Internacional
Por fim, vale destacar que essa é a primeira missão europeia a Mercúrio, resultado de uma parceria exemplar entre a ESA e a JAXA. A cooperação internacional na exploração espacial demonstra que os maiores desafios da humanidade são vencidos quando trabalhamos juntos, combinando expertise, recursos e visões diferentes.
A contagem regressiva já começou. Daqui a um ano, dois pequenos emissários da humanidade finalmente alcançarão o mundo mais próximo do Sol, pronto para revelar segredos guardados há bilhões de anos. Portanto, prepare-se para descobertas que podem transformar nossa compreensão não apenas de Mercúrio, mas de todos os planetas rochosos, incluindo a Terra.
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Perguntas Frequentes Sobre a Missão BepiColombo
Quando a BepiColombo chegará a Mercúrio?
A missão chegará a Mercúrio em novembro de 2026, iniciando suas operações científicas completas no início de 2027, após sete anos de viagem pelo Sistema Solar.
Por que a BepiColombo usa duas espaçonaves?
As duas espaçonaves — MPO e Mio — orbitarão em altitudes diferentes para estudar simultaneamente a superfície e a magnetosfera de Mercúrio, oferecendo uma visão tridimensional completa do planeta.
Mercúrio realmente pode ter água?
Cientistas acreditam que crateras permanentemente sombreadas nos polos de Mercúrio podem conter água congelada, protegida das temperaturas extremas do Sol pela ausência de luz solar direta.
Por que é tão difícil chegar a Mercúrio?
Chegar a Mercúrio exige manobras gravitacionais complexas porque é necessário desacelerar constantemente para não ser “puxado” pelo Sol, diferente de missões que vão para planetas mais distantes.
O que torna o campo magnético de Mercúrio especial?
Mercúrio é o único planeta rochoso além da Terra com campo magnético ativo, mas sua proteção magnética é muito mais fraca e muda constantemente devido à proximidade com o Sol.
Quais países participam da missão BepiColombo?
A BepiColombo é uma colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), combinando expertise europeia e japonesa em exploração planetária.
Quanto tempo a missão ficará em Mercúrio?
A missão nominal durará um ano, com possibilidade de extensão por mais 1,5 ano, tempo suficiente para coletar dados detalhados sobre o planeta mais misterioso do Sistema Solar.
Indicação de Leitura
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Fonte: Artigo “Marking one year until BepiColombo reaches Mercury” publicado em esa.int
Todos os créditos de imagem Reservados à ESA.
Imagens, dados e informações utilizadas nesta matéria são de propriedade da ESA e foram disponibilizadas para fins educacionais e informativos.
