Marte acaba de revelar um dos seus segredos mais fascinantes: cavernas colossais esculpidas pela água há bilhões de anos podem abrigar evidências de vida antiga no planeta vermelho. Além disso, essas formações subterrâneas representam um dos alvos mais promissores para futuras missões de exploração espacial.
Claraboias Marcianas Revelam Mundos Subterrâneos
Cientistas identificaram oito aberturas na superfície marciana que funcionam como verdadeiras claraboias naturais, revelando a entrada para cavernas gigantescas na região de Hebrus Valles. Essas estruturas, localizadas entre o extinto vulcão Elysium Mons e Utopia Planitia, possuem dimensões impressionantes: algumas ultrapassam 100 metros de diâmetro.
Diferentemente das crateras de impacto, essas claraboias não apresentam bordas elevadas ou material ejetado ao redor. Assim, os pesquisadores concluíram que se formaram quando o teto das cavernas colapsou parcialmente, criando essas janelas para o submundo marciano.
“Com os avanços tecnológicos esperados nas próximas décadas, acreditamos que a exploração in situ dessas cavernas cársticas marcianas é um objetivo alcançável”, afirma Chunyu Ding, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Shenzhen, na China.
O Que Torna Essas Cavernas Especiais?
Enquanto cavernas formadas por tubos de lava já foram descobertos em regiões vulcânicas de Marte, as cavernas de Hebrus Valles contam uma história completamente diferente. Portanto, essa descoberta marca a primeira identificação de cavernas cársticas no planeta vermelho.
As cavernas cársticas se formam quando água levemente ácida dissolve rochas ricas em carbonatos e sulfatos — como calcário e gipso. Na Terra, esse processo geológico criou maravilhas como as Cavernas de Carlsbad e o sistema de cavernas de Mammoth.
Através de dados arquivados de diversas missões marcianas, incluindo o Mars Global Surveyor, Mars Odyssey e Mars Reconnaissance Orbiter, a equipe liderada por Ding e Ravi Sharma mapeou a composição mineral da região. Dessa forma, confirmaram a presença abundante de rochas carbonáticas e sulfatos — ingredientes essenciais para a formação dessas estruturas.
Água Antiga Esculpiu Esses Mundos Subterrâneos
Há mais de 3,5 bilhões de anos, quando Marte era mais quente e úmido, grandes lagos e mares depositaram sedimentos ricos em carbonatos e sulfatos na região de Hebrus Valles. Contudo, quando o planeta esfriou drasticamente, essa água superficial desapareceu, transformando-se em gelo e salmouras congeladas no subsolo.
Os dados do espectrômetro de raios gama do Mars Odyssey sugerem que gelo de água ainda pode existir na região em quantidades significativas. Em algum momento da história marciana, eventos de aquecimento localizados — provavelmente causados por vulcões distantes, impactos de meteoritos ou variações orbitais prolongadas — derreteram esse gelo subterrâneo.
Consequentemente, a água líquida fluiu através de fraturas no solo, dissolvendo gradualmente as rochas carbonáticas e sulfáticas, expandindo rachaduras em cavernas massivas. Por fim, o colapso parcial dos tetos rochosos criou as claraboias que vemos hoje.
Por Que Essas Cavernas São Ideais Para Buscar Vida?
As cavernas cársticas de Marte representam verdadeiros refúgios preservados no tempo. Enquanto a superfície marciana é constantemente bombardeada por radiação ultravioleta, raios cósmicos, tempestades de poeira e variações extremas de temperatura, o interior dessas cavernas oferece proteção natural.
“Nossos resultados sugerem que Hebrus Valles provavelmente não é um caso completamente isolado, mas essas cavernas também não estarão em todos os lugares de Marte”, explica Ding. Assim, futuras descobertas devem se concentrar em regiões que satisfaçam condições deposicionais e hidrológicas semelhantes.
O microclima estável e aquoso que existiu nessas cavernas há bilhões de anos poderia ter abrigado colônias microbianas. Além disso, a rocha circundante protegeu potenciais bioassinaturas da degradação ao longo de eras geológicas, tornando essas cavernas alvos prioritários para missões de astrobiologia.
O Desafio da Exploração Subterrânea
Explorar essas cavernas não será tarefa simples. Por outro lado, também não é impossível. A rocha densa que envolve as cavernas limitará a transmissão de sinais de rádio entre exploradores robóticos no interior e naves orbitando Marte.
Contudo, a análise geomorfológica da equipe revelou que nem todas as cavernas possuem poços verticais simples. Algumas claraboias apresentam encostas formadas por detritos rochosos em formações escalonadas, semelhantes a degraus naturais.
Dessa forma, múltiplos exploradores robóticos poderiam formar uma cadeia de comunicação descendo até as cavernas. Rovers com rodas poderiam navegar cuidadosamente cada degrau, enquanto robôs escaladores equipados com guinchos ou aeronaves rotativas poderiam voar para dentro e fora das aberturas.
Um Lar Subterrâneo Para Futuros Astronautas?
A proteção natural oferecida por essas cavernas não beneficiaria apenas a preservação de bioassinaturas antigas. Assim como protegem evidências do passado, essas estruturas poderiam abrigar futuras bases humanas em Marte.
Astronautas estabelecidos em habitats subterrâneos estariam naturalmente protegidos dos perigos da radiação cósmica e das tempestades de poeira que assolam a superfície marciana. Portanto, é possível que o futuro da humanidade em Marte esteja literalmente enterrado nas profundezas do planeta vermelho.
Enquanto isso, ainda há muito a descobrir. Além das oito claraboias já identificadas, outras cavernas podem existir em Hebrus Valles, aguardando que seus tetos colapsem para serem reveladas. As cavidades subterrâneas podem ser várias vezes maiores que as aberturas visíveis, alcançando dezenas de metros de profundidade.
Uma Nova Fronteira na Exploração de Marte
A descoberta dessas cavernas cársticas redefine nossa compreensão sobre onde e como buscar vida em Marte. Diferentemente da superfície hostil, esses ambientes subterrâneos preservados oferecem uma cápsula do tempo geológica, potencialmente mantendo intactos os registros da história biológica marciana.
A pesquisa liderada por Chunyu Ding foi publicada no The Astrophysical Journal Letters em outubro passado, abrindo um novo capítulo empolgante na exploração do planeta vermelho. Por fim, à medida que a tecnologia espacial avança, a exploração dessas cavernas deixará de ser ficção científica para se tornar realidade científica.
Marte continua nos surpreendendo com suas revelações. Cada descoberta nos aproxima das respostas fundamentais: estamos sozinhos no universo? A vida já floresceu além da Terra?
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Perguntas Frequentes
Quantas cavernas foram descobertas em Marte?
Foram identificadas oito claraboias que revelam a entrada para possíveis cavernas cársticas na região de Hebrus Valles, embora outras podem existir sem terem sido detectadas ainda.
Como essas cavernas marcianas se formaram?
As cavernas se formaram quando água levemente ácida dissolveu rochas carbonáticas e sulfáticas no subsolo marciano há mais de 3,5 bilhões de anos, criando grandes câmaras subterrâneas.
Por que essas cavernas são importantes para buscar vida em Marte?
Elas oferecem proteção natural contra radiação, temperaturas extremas e tempestades de poeira, criando ambientes estáveis onde bioassinaturas antigas poderiam ter sido preservadas.
Onde ficam as cavernas cársticas de Marte?
Estão localizadas na região de Hebrus Valles, entre o vulcão extinto Elysium Mons e Utopia Planitia, nas latitudes médias do hemisfério norte marciano.
É possível explorar essas cavernas com a tecnologia atual?
Embora desafiador, é considerado viável com avanços tecnológicos nas próximas décadas, utilizando rovers, robôs escaladores e aeronaves rotativas trabalhando em conjunto.
Essas cavernas poderiam abrigar bases humanas no futuro?
Sim, a proteção natural contra radiação e tempestades de poeira torna essas cavernas candidatas ideais para futuras habitações humanas em Marte.
Existem outras cavernas semelhantes em Marte?
Provavelmente sim, em regiões que apresentem condições geológicas similares, com presença de rochas carbonáticas, sulfatos e histórico de água subsuperficial.
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Fonte: Artigo “Water-driven Accessible Potential Karstic Caves in Hebrus Valles, Mars: Implications for Subsurface Habitability” Citation Ravi Sharma et al 2025 ApJL 993 L36 DOI 10.3847/2041-8213/ae0f1c publicado em iopscience.iop.or