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Estrelas Jovens: O Segredo da Radiação UV no Berçário Cósmico

Se você já se perguntou como o universo cria suas estrelas, prepare-se para uma viagem. As estrelas jovens, também conhecidas como protoestrelas, são os bebês cósmicos que estão no centro de um mistério fascinante. Recentemente, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) apontou suas lentes para a região de Ophiuchus, um berçário estelar a 450 anos-luz de distância. O que ele encontrou está desafiando o que sabíamos sobre o nascimento estelar. A descoberta? Uma radiação ultravioleta (UV) inesperada, que está reescrevendo os modelos de formação estelar. Portanto, essa é uma grande novidade.

A Dra. Agata Karska e Iason Skretas, pesquisadores de instituições renomadas na Polônia e Alemanha, usaram o JWST para investigar cinco dessas protoestrelas. Eles queriam entender o papel da radiação UV nesse processo. O que torna essa busca tão intrigante é que, teoricamente, uma estrela recém-nascida ainda não tem a capacidade de “produzir” essa radiação. Assim, de onde ela vem? Essa pergunta moveu a pesquisa e nos leva a mergulhar nos detalhes desse espetáculo cósmico.

O Berçário de Ophiuchus e o Olhar do James Webb

A região de Ophiuchus é um laboratório natural para a astronomia. É uma nuvem molecular densa, repleta de gás e poeira. A gravidade trabalha incansavelmente ali para aglomerar matéria e dar origem a novas estrelas. Contudo, para observar o que acontece no interior dessas nuvens, é preciso de um instrumento que enxergue além da poeira. É aí que entra o JWST.

O James Webb, com seu espelho principal de 6,5 metros e seu escudo solar do tamanho de uma quadra de basquete, é o observatório mais poderoso da atualidade. Ele opera no infravermelho. Isso permite que a luz absorvida e reemitida pela poeira chegue até nós. A equipe de Karska e Skretas focou no instrumento MIRI (Mid-Infrared Instrument). Dessa forma, o MIRI é crucial para detectar a assinatura de moléculas importantes.

Segundo Iason Skretas, o objetivo era observar de perto as protoestrelas que ainda estão se formando no fundo de suas nuvens-mãe. Enquanto essas estrelas acumulam massa, elas também ejetam parte desse material na forma de jatos poderosos, chamados de outflows. Além disso, esses jatos são o sinal mais claro de que a formação estelar está em pleno andamento.

A Surpresa Ultravioleta nas Estrelas Jovens

A grande reviravolta veio de observações anteriores feitas com o telescópio Herschel. A Dra. Karska lembra que, para entender a química e a física desses outflows moleculares, eles precisavam considerar a existência de radiação UV. Contudo, essa era a primeira surpresa: as estrelas jovens não deveriam ser fontes de UV.

“Não deveríamos esperar isso. E, no entanto, mostramos que o UV ocorre perto das protoestrelas,” explica a Dra. Karska. A questão central, portanto, se tornou: a fonte dessa radiação é interna, ligada aos processos da própria estrela em formação, ou externa, vinda de outras estrelas vizinhas?

Para os astrônomos, a molécula de hidrogênio (H2) é a mais importante do universo, sendo a mais abundante. No entanto, sua estrutura torna a observação em nuvens moleculares muito difícil. A temperatura é baixa demais para excitá-la. É aqui que os outflows entram em cena. Os jatos ejetados pelas protoestrelas criam ondas de choque. Elas comprimem e aquecem a matéria, gerando uma emissão brilhante de H2. O MIRI do JWST é o instrumento perfeito para capturar essa emissão.

Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI, Klaus Pontoppidan (STScI) Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI)
Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI, Klaus Pontoppidan (STScI) Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI)

Desvendando a Origem da Radiação

A análise dos dados do JWST em Ophiuchus confirmou a presença de radiação UV nas proximidades das protoestrelas e seus outflows. Assim, a busca pela origem se intensificou.

Uma hipótese era que a radiação estaria ligada a processos internos. Por exemplo, choques formados durante a queda de matéria na protoestrela (choques de acreção) ou choques produzidos ao longo do jato protoestelar. Outra possibilidade, levantada por Iason Skretas, era a origem externa: “Talvez a origem seja externa – outras estrelas jovens próximas que já se formaram iluminam nossas protoestrelas e seus outflows.”

A equipe de pesquisa usou dois métodos para estimar a radiação UV externa. O primeiro considerou as propriedades das estrelas vizinhas e suas distâncias. O segundo se baseou na poeira. Ela absorve a radiação UV e a reemite em comprimentos de onda mais longos.

Impressão artística de uma estrela jovem cercada por um disco protoplanetário onde planetas estão se formando. Com a configuração de linha de base longa do ALMA (15 km), astrônomos obtiveram pela primeira vez uma imagem extremamente detalhada de um disco protoplanetário, revelando sua complexa estrutura. Os anéis concêntricos de gás e os espaços entre eles indicam a formação de novos planetas — exatamente como previam as simulações de computador. Créditos: ESO/L. Calçada
Impressão artística de uma estrela jovem cercada por um disco protoplanetário onde planetas estão se formando. Com a configuração de linha de base longa do ALMA (15 km), astrônomos obtiveram pela primeira vez uma imagem extremamente detalhada de um disco protoplanetário, revelando sua complexa estrutura. Os anéis concêntricos de gás e os espaços entre eles indicam a formação de novos planetas — exatamente como previam as simulações de computador. Créditos: ESO/L. Calçada

A Prova de que o Segredo Está Dentro

Os resultados foram surpreendentes. Ao aplicar os dois métodos, os astrônomos descobriram que a radiação UV externa variava significativamente entre as protoestrelas observadas. Logicamente, eles deveriam ver diferenças na emissão molecular de H2. Contudo, como Iason Skretas aponta, “não vemos essas diferenças.”

Com isso, a hipótese da fonte externa foi rejeitada. A Dra. Karska afirma com certeza: “Podemos dizer com certeza que a radiação UV está presente nas proximidades da protoestrela, pois afeta, sem dúvida, as linhas moleculares observadas. Portanto, sua origem tem que ser interna.”

Essa conclusão é um divisor de águas. Ela mostra que as próprias protoestrelas, de alguma forma, estão gerando a radiação UV, mesmo antes de atingirem a maturidade. Dessa forma, os modelos atuais de formação estelar precisam ser atualizados para incluir a produção dessa radiação.

O Futuro da Formação Estelar

A pesquisa, publicada no prestigiado jornal “Astronomy & Astrophysics”, não apenas resolve um mistério, mas também abre a porta para novas perguntas. Afinal, o que exatamente está causando essa emissão interna de UV?

As futuras análises das observações do JWST vão se concentrar não apenas no gás, mas também na composição da poeira e dos gelos ao redor das protoestrelas. Esses elementos oferecem maneiras alternativas de restringir a origem da radiação UV. Enquanto isso, a observação de um número maior de fontes será crucial para impor restrições mais rigorosas aos locais de produção de UV.

O universo é um lugar de surpresas constantes. A cada nova observação, descobrimos que o processo de criação estelar é mais complexo e dinâmico do que imaginávamos. As estrelas jovens são a chave para desvendar os segredos de como a matéria se organiza para formar os sóis que iluminam as galáxias. Por fim, é uma jornada de descobertas que está apenas começando.

Que mistérios mais o James Webb nos revelará sobre o nascimento das estrelas? O cosmos está sempre nos convidando a olhar mais de perto.

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Perguntas Frequentes (FAQ) Sobre protoestrelas Ophiuchus

O que são protoestrelas?

Protoestrelas são estrelas jovens em estágio inicial de formação, ainda envoltas em suas nuvens de gás e poeira de origem. Elas ainda não iniciaram a fusão nuclear em seus núcleos.

Qual a importância da radiação UV na formação estelar?

A radiação ultravioleta (UV) pode influenciar a química e a física dos jatos de material ejetado pelas protoestrelas (outflows), afetando como o material ao redor da estrela se comporta e, consequentemente, o processo de formação.

O que o Telescópio James Webb descobriu sobre as estrelas jovens?

O JWST confirmou a presença de radiação UV nas proximidades das protoestrelas na região de Ophiuchus e, por eliminação, determinou que a fonte dessa radiação é interna à própria protoestrela, e não externa.

O que é o instrumento MIRI do JWST?

MIRI (Mid-Infrared Instrument) é um dos quatro instrumentos científicos do JWST, projetado para observar o universo em comprimentos de onda do infravermelho médio (2 a 28 micrômetros), sendo essencial para detectar moléculas como o hidrogênio (H₂) em nuvens de poeira.

O que são os outflows protoestelares?

Outflows são jatos de material ejetado pelas estrelas jovens em formação. Eles são um sinal claro da acreção de massa e criam ondas de choque que aquecem o gás, tornando-o visível para instrumentos como o MIRI.

Onde a pesquisa sobre as estrelas jovens foi publicada?

A pesquisa, conduzida pela Dra. Agata Karska e Iason Skretas, foi publicada no renomado jornal científico internacional “Astronomy & Astrophysics”.

Qual a distância da região de Ophiuchus?

A nuvem molecular de Ophiuchus, onde as estrelas jovens foram observadas, está localizada a aproximadamente 450 anos-luz de distância da Terra.

Indicação de Leitura

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Sugestões de Links Internos (Inbound)

Sugestões de Links Externos (Outbound):

Fonte:Artigo “UV-irradiated outflows from low-mass protostars in Ophiuchus with JWST/MIRI”A&A, 703, A139 (2025) https://doi.org/10.1051/0004-6361/202554977 The Authors 2025 Astronomy & Astrophysics

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