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O Universo é Infinito? A Ciência Responde (e Complica) Tudo

Olhe para o céu noturno e você verá milhares de estrelas piscando. Mas e se eu te contar que tudo isso é apenas uma fração microscópica do que existe por aí? A pergunta que não quer calar é: o universo é infinito? Prepare-se, porque a resposta vai muito além de um simples sim ou não. Na verdade, ela envolve geometria, topologia e até mesmo cilindros que se transformam em garrafas impossíveis.

Imagem do Telescópio Espacial James Webb mostrando um campo profundo do aglomerado de galáxias MACS J1149.5+2223, capturado pela NIRCam. A cena revela galáxias em diferentes cores e formatos, incluindo espirais azuladas, elípticas esbranquiçadas e galáxias avermelhadas extremamente distantes destacadas pelo infravermelho. Os dados fazem parte do levantamento CANUCS, que permitiu identificar a galáxia CANUCS-LRD-z8.6, vista 570 milhões de anos após o Big Bang. Créditos: NASA/ESA/CSA.
Campo profundo do aglomerado MACS J1149.5+2223 observado pela NIRCam do Telescópio Espacial James Webb. As longas exposições do levantamento CANUCS revelam galáxias em diferentes estágios evolutivos, incluindo objetos extremamente distantes realçados pelos tons avermelhados. Foi nessa região paralela do aglomerado que pesquisadores encontraram a galáxia CANUCS-LRD-z8.6, vista apenas 570 milhões de anos após o Big Bang. Créditos: NASA/ESA/CSA.

Por Que Essa Pergunta É Tão Complicada?

Para entender se o universo tem fim, primeiro precisamos aceitar uma verdade desconfortável: existe um limite para o que podemos observar. Esse limite não é só visual é informacional. Além do nosso horizonte cósmico, há uma quantidade de informação que jamais conseguiremos acessar, mesmo que esperemos para sempre.

Portanto, quando falamos sobre o tamanho total do universo, estamos entrando no território das suposições. Assim como assumimos que existe mais Terra além do nosso horizonte terrestre, assumimos que existe mais “cosmo” além do que conseguimos ver. Mais galáxias, mais estrelas e, provavelmente, mais vídeos de gatos gerados por inteligência artificial espalhados por civilizações alienígenas.

Esta ilustração artística mostra CR7, uma galáxia extremamente distante descoberta usando o Very Large Telescope do ESO. Ela é, de longe, a galáxia mais brilhante já encontrada no Universo primordial, e há fortes evidências de que nela existam exemplos da primeira geração de estrelas. Esses objetos massivos, intensamente luminosos e até então apenas teóricos foram os responsáveis por criar os primeiros elementos pesados da história — os elementos necessários para formar as estrelas ao nosso redor hoje, os planetas que as orbitam e a vida como a conhecemos. Esta galáxia recém-descoberta é três vezes mais brilhante do que a galáxia distante mais brilhante conhecida até agora. Crédito: ESO/M. Kornmesser
Esta ilustração artística mostra CR7, uma galáxia extremamente distante descoberta usando o Very Large Telescope do ESO. Ela é, de longe, a galáxia mais brilhante já encontrada no Universo primordial, e há fortes evidências de que nela existam exemplos da primeira geração de estrelas. Esses objetos massivos, intensamente luminosos e até então apenas teóricos foram os responsáveis por criar os primeiros elementos pesados da história — os elementos necessários para formar as estrelas ao nosso redor hoje, os planetas que as orbitam e a vida como a conhecemos. Esta galáxia recém-descoberta é três vezes mais brilhante do que a galáxia distante mais brilhante conhecida até agora. Crédito: ESO/M. Kornmesser

O Universo Pode Ser Finito Sem Ter Borda?

Aqui vem a parte que derrete cérebros. Por outro lado, como algo finito pode não ter borda? Pense na superfície da Terra. Ela é finita, mas você pode caminhar eternamente sem encontrar uma queda ou muro no fim do mundo. O truque? Curvatura.

Dessa forma, o universo também pode ser finito e sem bordas se for curvado. Mas antes de aceitar essa ideia revolucionária, os cientistas precisam medir essa curvatura. E é aqui que a coisa fica fascinante.

Como Medir a Curvatura do Universo

Enquanto isso, matemáticos e astrônomos desenvolveram ferramentas engenhosas para detectar se o espaço é curvo ou plano. Uma delas envolve triângulos gigantes. Em uma superfície plana, os ângulos internos de um triângulo somam exatos 180 graus. Contudo, em superfícies curvas, essa soma muda.

Além disso, existe o teste das linhas paralelas. Na Terra, se duas pessoas partem do equador seguindo linhas retas para o norte, eventualmente se encontram no Polo Norte — não porque viraram, mas porque o planeta curvou sob seus pés.

A Radiação Cósmica de Fundo Conta Tudo

Os cientistas aplicam essa mesma lógica ao universo usando a radiação cósmica de fundo em micro-ondas (CMB). Essa radiação é como uma foto do universo bebê, capturada quando ele tinha apenas 380 mil anos. Naquele momento, o cosmos esfriou o suficiente para liberar uma enxurrada de luz.

A física desse plasma primordial é bem compreendida, e os cálculos preveem o tamanho das variações de temperatura que deveriam aparecer nessa radiação. Assim, ao comparar o tamanho esperado dessas manchas com o tamanho real observado, conseguimos descobrir se a luz se curvou durante sua jornada de bilhões de anos-luz.

O resultado? As manchas são exatamente do tamanho esperado. Portanto, dentro do nosso horizonte observável, o universo é geometricamente plano.

Representação artística do Big Bang e a linha do tempo do universo, desta vez com a inclusão de uma galáxia em formação. A imagem mostra a radiação cósmica de fundo (CMB), o processo de expansão do universo e a formação de galáxias, evidenciando como o cosmos evoluiu desde a explosão inicial até a criação das primeiras estruturas galácticas.
Ilustração esquemática mostrando as posições relativas do quasar de fundo (PKS1830–211), da galáxia em primeiro plano que produz a absorção de HCN e do observador (ALMA). Créditos:keio.ac.jp

Caso Encerrado? Nem Pensar

Por fim, antes de declarar vitória, existe um problema. Se tentássemos medir a curvatura da Terra a partir do seu bairro, não teríamos sucesso. Triângulos pequenos demais ou linhas paralelas curtas demais não revelam a curvatura global do planeta.

Da mesma forma, nossa bolha observável pode ser plana simplesmente porque é minúscula comparada ao universo total. Além disso, o cosmos pode ter uma curvatura sutil demais para detectarmos na nossa pequena janela de observação — mesmo que essa “janela” tenha dezenas de bilhões de anos-luz.

A Diferença Entre Geometria e Topologia Vai Explodir Sua Cabeça

Aqui vem a cereja do bolo. O universo pode ser plano geometricamente e ainda assim ser curvo topologicamente. Pegue uma folha de papel plana, desenhe triângulos e linhas paralelas nela. Agora enrole essa folha formando um cilindro. Os triângulos continuam triângulos e as linhas paralelas continuam paralelas.

Dessa forma, uma ou mais dimensões do universo podem estar “fechadas” — ou seja, elas se conectam consigo mesmas, criando um loop, mesmo mantendo a geometria plana. E fica ainda mais bizarro: um cilindro, uma faixa de Möbius, uma garrafa de Klein e um donut são todos geometricamente planos, mas topologicamente diferentes.

Quantas Formas o Universo Pode Ter?

Em três dimensões, existem 17 topologias distintas conhecidas que são todas geometricamente planas. Uma das mais fascinantes é o espaço Hantzsche-Wendt, que envolve padrões hexagonais repetitivos.

Contudo, cientistas já procuraram por essas topologias fechadas. Eles buscaram pontos de intersecção na radiação cósmica de fundo e galáxias que aparecem em lados opostos do céu. Até agora, tudo indica que o universo é simples — nenhuma dimensão se conecta consigo mesma. Mas, novamente, há um limite para o que conseguimos ver.

E o Multiverso? Melhor Deixar Para Depois

Enquanto isso, ainda nem tocamos na possibilidade do multiverso. Nossa realidade, mesmo além do horizonte observável, poderia ser apenas uma bolha entre infinitas outras bolhas, todas se expandindo e gerando novos Big Bangs nos espaços entre elas. Mas isso é conversa para outro artigo.

A Busca Continua

Por fim, a verdade é que provavelmente nunca saberemos se o universo é infinito ou finito. O limite observacional não é apenas um obstáculo técnico — é uma barreira fundamental da física. Portanto, restam-nos teorias, modelos matemáticos e a sensação humilde de que, por maior que seja nosso conhecimento, o cosmos sempre guardará segredos além do nosso alcance.

Mas, por outro lado, essa incerteza é também o que torna a astronomia tão empolgante. Cada descoberta nos aproxima da resposta, mesmo que nunca a alcancemos completamente. Assim, continuamos observando, medindo e tentando decifrar os mistérios desse universo que nos acolhe — seja ele infinito ou não.


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FAQ Sobre universo infinito

O universo é infinito ou finito?

Não sabemos com certeza. Ele pode ser infinito, ou finito mas sem bordas devido à curvatura do espaço. Nossas medições mostram que é plano dentro do que conseguimos observar, mas isso não descarta outras possibilidades além do nosso horizonte.

Como os cientistas medem a curvatura do universo?

Eles analisam a radiação cósmica de fundo usando triângulos imaginários e comparando o tamanho das variações de temperatura com as previsões teóricas. Se os tamanhos diferem, o universo é curvo; se coincidem, é plano.

O que é a radiação cósmica de fundo?

É a luz mais antiga do universo, liberada quando o cosmos tinha apenas 380 mil anos e esfriou o suficiente para que os átomos se formassem. Essa radiação carrega informações sobre a geometria e composição do universo primordial.

Qual a diferença entre geometria e topologia?

Geometria descreve se o espaço é plano ou curvo. Topologia descreve como as dimensões se conectam — por exemplo, se elas formam loops. O universo pode ser geometricamente plano mas topologicamente fechado.

É possível viajar pelo universo e voltar ao ponto de partida?

Teoricamente sim, se o universo for topologicamente fechado. Mas você teria que viajar além do horizonte observável, o que é impossível em um universo em expansão acelerada.

O que é o multiverso?

É a hipótese de que nosso universo é apenas uma “bolha” entre infinitas outras, cada uma com suas próprias leis físicas e constantes fundamentais, todas se expandindo e criando novos Big Bangs.

Por que nunca saberemos se o universo é realmente infinito?

Porque existe um limite fundamental para a quantidade de informação que podemos receber, determinado pela velocidade da luz e pela expansão do universo. Além do nosso horizonte observável, a informação simplesmente não pode nos alcançar.

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