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WASP-18b: O Primeiro Mapa 3D de um Exoplaneta Ultraquente Revela Segredos Atmosféricos

Desvendando Mundos Além do Nosso Sistema Solar

A busca por planetas fora do nosso sistema solar, os chamados exoplanetas, sempre fascinou a humanidade. Contudo, enxergá-los diretamente é um desafio monumental, pois o brilho de suas estrelas hospedeiras ofusca qualquer observação. Agora, uma nova era de descobertas está se abrindo. Graças à tecnologia de ponta do Telescópio Espacial James Webb (JWST), astrônomos conseguiram gerar o primeiro Mapa 3D Exoplaneta de um mundo distante, o WASP-18b, revelando detalhes inéditos de sua atmosfera. Essa conquista não apenas nos permite “ver” esses mundos distantes, mas também começar a entendê-los com a mesma profundidade que estudamos nossos vizinhos solares.

O WASP-18b é um gigante gasoso classificado como um “Júpiter ultraquente”, localizado a cerca de 400 anos-luz da Terra. Sua órbita é incrivelmente rápida, completando uma volta em torno de sua estrela em apenas 23 horas, e suas temperaturas chegam perto dos 2.760 graus Celsius. Segundo Ryan Challener, pós-doutorando no Departamento de Astronomia da Universidade de Cornell e primeiro autor do estudo, essa técnica nos permite mapear variações atmosféricas de forma semelhante a como o Grande Ponto Vermelho de Júpiter foi observado há muito tempo.

Ilustração artística do exoplaneta WASP-18b, um planeta gigante gasoso com massa dez vezes maior que Júpiter, orbitando muito próximo de sua estrela a cada 23 horas, localizado a 325 anos-luz da Terra. O planeta aparece em tons marrons, iluminado pela luz de sua estrela próxima, com um fundo estrelado primeiro Mapa 3D de um exoplaneta
Ilustração artística do exoplaneta WASP-18b, um planeta gigante gasoso com massa dez vezes maior que Júpiter, orbitando muito próximo de sua estrela a cada 23 horas, localizado a 325 anos-luz da Terra. O planeta aparece em tons marrons, iluminado pela luz de sua estrela próxima, com um fundo estrelado

Mapeamento de Eclipse Espectroscópico em 3D: A Nova Cartografia Cósmica

A chave para essa façanha é uma técnica inovadora conhecida como mapeamento de eclipse espectroscópico em 3D. Essa abordagem baseia-se na observação das minúsculas frações de luz que um exoplaneta obscurece e revela ao passar por trás de sua estrela hospedeira.

Detectar exoplanetas é notoriamente difícil, já que eles emitem menos de 1% do brilho total de sua estrela. O mapeamento de eclipse exige a medição de mudanças sutis nessa luz total. Os cientistas conseguem então ligar essas alterações a regiões específicas do planeta, criando um mapa de brilho. Ao fazer isso em múltiplos comprimentos de onda, ou “cores” de luz, o mapa de brilho pode ser convertido em um mapa de temperaturas em três dimensões: latitude, longitude e altitude.

De acordo com Challener, que publicou a pesquisa na Nature Astronomy, o WASP-18b, com uma massa aproximadamente dez vezes maior que a de Júpiter, forneceu um sinal relativamente forte, tornando-o um caso de teste ideal. O esforço se baseou no modelo 2D anterior, publicado em 2023 pela mesma equipe, que já demonstrava o potencial das observações altamente sensíveis do JWST.

O Desafio de “Ver” o Invisível

Portanto, a dificuldade em mapear esses mundos reside na imensa diferença de brilho entre a estrela e o planeta. Além disso, o exoplaneta precisa estar perfeitamente alinhado para que o eclipse ocorra do nosso ponto de vista na Terra. Essa coincidência cósmica é rara, mas quando acontece, oferece uma janela de oportunidade única. O que os astrônomos fazem é medir a luz combinada da estrela e do planeta e, em seguida, medir a luz da estrela sozinha quando o planeta está escondido atrás dela. A diferença entre essas duas medições é a luz emitida pelo planeta.

Contudo, essa luz é extremamente fraca. Dessa forma, o Telescópio Espacial James Webb, com sua capacidade incomparável de captar luz infravermelha, torna-se uma ferramenta indispensável. Ele funciona como um detetive cósmico, separando a luz do planeta da luz ofuscante da estrela com uma precisão nunca antes vista.

Como o JWST Criou o Mapa 3D Exoplaneta

A transição do modelo 2D para o 3D foi possível graças a uma reanálise das observações feitas com o instrumento NIRISS (Near-Infrared Imager and Slitless Spectrograph) do JWST em muitos comprimentos de onda. Cada “cor” de luz corresponde a diferentes temperaturas e altitudes dentro da atmosfera gasosa do WASP-18b, permitindo que os pesquisadores montassem o Mapa 3D Exoplaneta tridimensional.

A Magia dos Comprimentos de Onda

A escolha do comprimento de onda é crucial para sondar a profundidade da atmosfera. Challener explica que, se você constrói um mapa em um comprimento de onda que a água absorve, você consegue enxergar a camada de água na atmosfera. Por outro lado, um comprimento de onda que a água não absorve irá sondar camadas mais profundas. Assim, ao combinar essas informações, é possível obter um mapa completo das temperaturas em 3D.

Essa técnica é comparável a uma tomografia computadorizada, mas aplicada a um planeta a anos-luz de distância. Cada comprimento de onda atua como uma “fatia” da atmosfera, revelando as condições em diferentes altitudes. Enquanto isso, a equipe de pesquisa, que inclui Megan Wiener Mansfield da Universidade de Maryland e Jake Turner da Cornell, trabalhou para costurar essas fatias em um modelo coeso.

O Papel da Espectroscopia

A espectroscopia é a análise da luz em seus componentes de comprimento de onda. Moléculas específicas na atmosfera de um planeta, como o vapor de água, absorvem a luz em comprimentos de onda característicos. Portanto, ao medir a quantidade de luz absorvida em diferentes “cores”, os cientistas podem determinar a composição química e a temperatura da atmosfera em várias profundidades. Essa é a essência do mapeamento de eclipse espectroscópico: usar a assinatura química da luz para construir um retrato físico do planeta.

As cores indicam a temperatura, e a transparência indica a contribuição relativa para o fluxo total observado no ponto de máxima visibilidade, com base no ângulo entre um ponto específico no mapa e a linha de visão do observador. Uma contribuição máxima de 1 indica uma latitude/longitude que está no ponto sub-observador em algum momento durante as observações. As curvas pretas tracejadas delimitam as três regiões identificadas pelo método de mapeamento por Eigenspectra. Evidências de uma estrutura atmosférica multidimensional podem ser observadas na variação da temperatura e da forma dos pontos quentes conforme o comprimento de onda.
As cores indicam a temperatura, e a transparência indica a contribuição relativa para o fluxo total observado no ponto de máxima visibilidade, com base no ângulo entre um ponto específico no mapa e a linha de visão do observador. Uma contribuição máxima de 1 indica uma latitude/longitude que está no ponto sub-observador em algum momento durante as observações. As curvas pretas tracejadas delimitam as três regiões identificadas pelo método de mapeamento por Eigenspectra. Evidências de uma estrutura atmosférica multidimensional podem ser observadas na variação da temperatura e da forma dos pontos quentes conforme o comprimento de onda. Créditos: Nature Astronomy

Zonas de Temperatura Distintas em WASP-18b: O Hotspot e a Quebra da Água

O novo Mapa 3D Exoplaneta confirmou a existência de regiões espectroscopicamente distintas no lado diurno visível do WASP-18b, o lado que está sempre voltado para a estrela devido ao seu acoplamento de maré. Além disso, essas regiões diferem não apenas em temperatura, mas também possivelmente em composição química.

O planeta apresenta um “hotspot” circular, o ponto onde a luz estelar mais direta incide. É interessante notar que, nessa região, os ventos não parecem ser fortes o suficiente para redistribuir o calor de maneira eficaz. Circundando o hotspot, há um “anel” mais frio próximo às bordas visíveis do planeta.

A Evidência da Decomposição da Água

Contudo, a descoberta mais fascinante envolve a água. As medições mostraram níveis mais baixos de vapor de água no hotspot em comparação com a média do WASP-18b. Assim, Challener sugere que isso é uma evidência de que o planeta está tão quente nessa região que o vapor de água está começando a se decompor. A temperatura extrema de quase 3.000°C é suficiente para quebrar as moléculas de H₂O em seus átomos constituintes, hidrogênio e oxigênio.

Essa quebra da molécula de água havia sido prevista pela teoria, mas vê-la confirmada por observações reais é um feito empolgante. Dessa forma, o WASP-18b não é apenas um planeta quente; é um laboratório cósmico onde podemos observar a química em condições extremas, muito além das que encontramos em nosso sistema solar.

O Futuro da Exploração com o Telescópio James Webb

A técnica de mapeamento de eclipse em 3D é um divisor de águas para a astronomia. Enquanto isso, os pesquisadores já planejam observações adicionais com o JWST para melhorar a resolução espacial do primeiro mapa.

A boa notícia é que essa técnica será aplicável a muitos outros “Júpiteres quentes” que podem ser observados pelo Telescópio James Webb. Portanto, podemos começar a entender os exoplanetas em 3D como uma população, o que, nas palavras de Challener, é “muito empolgante”.

A equipe de pesquisa está abrindo caminho para uma compreensão sem precedentes das atmosferas exoplanetárias. Por fim, o mapeamento 3D permitirá que a comunidade científica desvende os mistérios de mundos que, até recentemente, eram apenas pontos de luz distantes. Segundo dados da pesquisa, já são mais de 6.000 exoplanetas confirmados até o momento, e a capacidade de mapeá-los em três dimensões promete revolucionar o campo.

Concept art do Telescópio Espacial James Webb em operação no espaço profundo, mostrando seus painéis dourados refletindo a luz das estrelas. © NASA
Concept art do Telescópio Espacial James Webb em operação no espaço profundo, mostrando seus painéis dourados refletindo a luz das estrelas. © NASA

Conclusão: Um Novo Olhar Sobre o Cosmos

A criação do primeiro Mapa 3D Exoplaneta, o WASP-18b, representa um salto gigantesco na nossa capacidade de explorar o universo. As zonas de temperatura distintas e a decomposição do vapor de água em seu hotspot nos mostram que a realidade desses mundos ultraquentes é ainda mais complexa e fascinante do que imaginávamos. Dessa forma, a ciência continua a nos surpreender, transformando pontos de luz em paisagens atmosféricas detalhadas.

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FAQ: Perguntas Frequentes sobre o WASP-18b e Mapeamento 3D

1. O que é o WASP-18b e por que ele é especial?

O WASP-18b é um exoplaneta gigante gasoso, um “Júpiter ultraquente”, que se tornou o primeiro mundo fora do nosso sistema solar a ter um Mapa 3D Exoplaneta de sua atmosfera criado por astrônomos.

2. O que significa “mapeamento de eclipse espectroscópico em 3D”?

É uma técnica que usa o Telescópio Espacial James Webb (JWST) para medir as mudanças na luz de uma estrela quando um exoplaneta passa por trás dela, permitindo criar um mapa tridimensional das temperaturas e composições atmosféricas do planeta.

3. Qual foi a principal descoberta do Mapa 3D Exoplaneta do WASP-18b?

A principal descoberta foi a identificação de zonas de temperatura distintas, incluindo um “hotspot” circular e um “anel frio”, e a evidência de que o vapor de água está se decompondo devido ao calor extremo no hotspot.

4. Por que o JWST é essencial para essa pesquisa e para o Mapa 3D Exoplaneta?

O JWST, com seu instrumento NIRISS, possui a sensibilidade necessária para medir as minúsculas frações de luz e os múltiplos comprimentos de onda exigidos pelo mapeamento de eclipse, o que era impossível com telescópios anteriores.

5. Essa técnica pode ser usada em outros exoplanetas?

Sim, os pesquisadores afirmam que a técnica de mapeamento de eclipse em 3D será aplicável a muitos outros Júpiteres quentes e exoplanetas observáveis pelo Telescópio Espacial James Webb.

6. O que são Júpiteres ultraquentes?

São exoplanetas gigantes gasosos que orbitam muito próximos de suas estrelas, resultando em temperaturas superficiais extremamente altas, como é o caso do WASP-18b.

7. Quem são os principais responsáveis pela criação do Mapa 3D Exoplaneta?

A pesquisa foi co-liderada por Ryan Challener (Cornell) e Megan Wiener Mansfield (Universidade de Maryland), com a colaboração de Jake Turner (Cornell), utilizando dados do JWST.

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FonteArtigo Nature Astronomy

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