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Desvendando o Berçário Cósmico: Como o Projeto SPAM Revela a Formação de Exoplanetas

A busca por planetas fora do nosso Sistema Solar, os exoplanetas, é uma das áreas mais fascinantes da astronomia moderna. Compreender como esses mundos nascem é fundamental para desvendar a história da nossa própria Terra. Neste contexto, o projeto SPAM (Search for Protoplanets with Aperture Masking) está servindo descobertas saborosas sobre a formação planetária.

Astrônomos do Observatório W. M. Keck, no Maunakea, Havaí, conseguiram a visão mais próxima já registrada das regiões empoeiradas onde os planetas se formam. Este olhar inédito oferece uma nova e crucial perspectiva sobre os estágios iniciais do nascimento planetário. Segundo Christina Vides, estudante de pós-graduação da Universidade da Califórnia em Irvine e principal autora do estudo, a motivação é profunda: “Todos nós queremos saber de onde viemos e como nosso sistema solar se formou. Ao estudar sistemas como este, podemos observar a formação de planetas em ação e aprender quais condições dão origem a mundos como o nosso.”

O Que é o Projeto SPAM e Por Que Ele é Tão Importante?

O projeto SPAM, cujo nome carinhoso significa “Busca por Protoplanetas com Máscara de Abertura”, é uma iniciativa ambiciosa que já observou trinta objetos celestes. O objetivo principal é mapear as regiões internas dos discos protoplanetários, que são os anéis de gás e poeira que circundam estrelas jovens e servem como “berçários” para novos mundos.

A importância do SPAM reside na sua capacidade de superar as limitações dos métodos tradicionais de imagem. A luz intensa da estrela central geralmente ofusca os detalhes mais finos do disco, especialmente as regiões mais próximas, onde a formação planetária é mais ativa. Para contornar isso, a equipe utilizou a Câmera de Infravermelho Próximo (NIRC2) do Observatório Keck. Esta ferramenta, combinada com a técnica de máscara de abertura, permite aos astrônomos enxergar muito mais perto da estrela do que seria possível de outra forma.

No topo do Mauna Kea, no Havaí, astrônomos da NASA conectaram os dois telescópios de 10 metros (33 pés) do Observatório W. M. Keck. Os telescópios interligados, juntos chamados de Interferômetro Keck, formam o sistema de telescópios ópticos mais poderoso do mundo
No topo do Mauna Kea, no Havaí, astrônomos da NASA conectaram os dois telescópios de 10 metros (33 pés) do Observatório W. M. Keck. Os telescópios interligados, juntos chamados de Interferômetro Keck, formam o sistema de telescópios ópticos mais poderoso do mundo

A Técnica Inovadora da Máscara de Abertura

A máscara de abertura é uma técnica engenhosa que transforma o telescópio em um interferômetro. Em vez de coletar toda a luz, a máscara bloqueia partes da abertura do telescópio, criando múltiplos “mini-telescópios”. A luz coletada por esses pequenos orifícios é então combinada, permitindo que os astrônomos atinjam uma resolução angular extremamente alta. Dessa forma, eles conseguem resolver estruturas minúsculas que estão muito próximas da estrela central.

Essa abordagem tecnológica avançada é essencial para o sucesso do projeto. Além disso, o uso da óptica adaptativa do Keck corrige as distorções causadas pela atmosfera terrestre, garantindo que as imagens capturadas sejam as mais nítidas e detalhadas possíveis. Portanto, a combinação dessas tecnologias permite que o SPAM empurre os limites do que podemos observar no cosmos.

HD 34282: Um Disco de Transição em Detalhe Inédito

O alvo mais recente e notável do projeto SPAM é a estrela jovem HD 34282, localizada a cerca de 400 anos-luz de distância. Esta estrela está envolta em um denso anel de gás e poeira conhecido como “disco de transição”. Os discos de transição são particularmente interessantes porque se acredita que eles já foram esculpidos por planetas em crescimento.

A equipe de Christina Vides capturou a visão mais detalhada das regiões internas do disco de HD 34282. As observações revelaram estruturas aglomeradas e padrões de brilho que sugerem fortemente a atividade de formação planetária. A imagem gerada, que utiliza um algoritmo para reconstruir os dados de interferometria, mostra claramente a complexidade do sistema.

A imagem do NIRC2 mostra a poeira ao redor de uma jovem estrela chamada HD34282 (à esquerda), produzida usando um algoritmo que constrói imagens a partir de dados de interferometria com máscara de abertura. A luz da estrela foi removida, e sua posição está marcada com um símbolo de estrela em todos os painéis.

O modelo que reproduz os dados (no centro) inclui uma estrutura interna circular ao redor da estrela, que pode ser um invólucro de poeira. Há também um grande disco protoplanetário envolvendo tanto a estrela quanto essa estrutura interna.

Entre a estrutura interna e o disco protoplanetário existe um vazio de cerca de 40 unidades astronômicas (UA), onde planetas podem estar se formando.

À direita está a imagem do modelo após passar pelo mesmo algoritmo usado na imagem à esquerda — isso é feito para testar se o modelo consegue reproduzir visualmente os dados observados.

Crédito: Christina Vides / University of California Irvine / W. M. Keck Observatory.
A imagem do NIRC2 mostra a poeira ao redor de uma jovem estrela chamada HD34282 (à esquerda), produzida usando um algoritmo que constrói imagens a partir de dados de interferometria com máscara de abertura. A luz da estrela foi removida, e sua posição está marcada com um símbolo de estrela em todos os painéis. O modelo que reproduz os dados (no centro) inclui uma estrutura interna circular ao redor da estrela, que pode ser um invólucro de poeira. Há também um grande disco protoplanetário envolvendo tanto a estrela quanto essa estrutura interna. Entre a estrutura interna e o disco protoplanetário existe um vazio de cerca de 40 unidades astronômicas (UA), onde planetas podem estar se formando. À direita está a imagem do modelo após passar pelo mesmo algoritmo usado na imagem à esquerda — isso é feito para testar se o modelo consegue reproduzir visualmente os dados observados. Crédito: Christina Vides / University of California Irvine / W. M. Keck Observatory.

O Vazio de 40 Unidades Astronômicas

Um dos achados mais significativos foi a identificação de uma lacuna de aproximadamente 40 Unidades Astronômicas (UA) entre uma estrutura interna circular de poeira e o disco protoplanetário principal. Uma Unidade Astronômica é a distância média entre a Terra e o Sol. Para colocar em perspectiva, 40 UA é uma distância maior do que a que separa Netuno do Sol.

De acordo com os dados, esta lacuna de 40 UA é o local provável onde planetas podem estar se formando. Acredita-se que um ou mais protoplanetas, ao orbitarem a estrela, “limpam” o material em seu caminho, criando esses vazios no disco. Embora nenhum protoplaneta tenha sido detectado diretamente neste estudo, as observações forneceram as restrições mais rigorosas até agora sobre onde um planeta jovem poderia estar escondido. Além disso, a equipe conseguiu estimar a massa da estrela e sua taxa de acreção, informações cruciais para modelar como o material circundante evoluirá para formar planetas.

A Raridade da Detecção de Protoplanetas

A detecção precoce de protoplanetas é um desafio técnico e uma raridade na astronomia. Apenas dois protoplanetas confirmados foram fotografados diretamente até hoje: PDS 70 b e PDS 70 c. Ambos foram descobertos em 2020 por observadores do Caltech, também utilizando o instrumento NIRC2 do Observatório Keck.

Cada nova observação, como a de HD 34282, constrói sobre esse legado. Ela aproxima os astrônomos da compreensão de como os sistemas planetários emergem dos discos de gás e poeira em turbilhão. Christina Vides enfatiza que este trabalho está “empurrando os limites do que podemos ver”. As capacidades de óptica adaptativa e máscara do Keck tornam possível resolver características a apenas algumas unidades astronômicas da estrela, regiões que seriam completamente invisíveis de outra forma.

Esta imagem, capturada pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) — do qual o ESO é parceiro — mostra uma visão ampla (à esquerda) e um close (à direita) do disco formador de luas que envolve o planeta PDS 70c, um jovem mundo semelhante a Júpiter localizado a cerca de 400 anos-luz de distância. Na imagem aproximada, vemos PDS 70c e seu disco circumplanetário em primeiro plano, enquanto o grande disco circumestelar, em formato de anel, ocupa a maior parte do lado direito. A estrela PDS 70 está no centro da imagem à esquerda, na visão mais ampla. O sistema abriga dois planetas, PDS 70c e PDS 70b — este último não é visível na imagem. Esses planetas escavaram uma cavidade no disco circumestelar ao absorver material dele, crescendo de tamanho. Durante esse processo, PDS 70c formou seu próprio disco circumplanetário, que alimenta o crescimento do planeta e serve como berço para o nascimento de luas. Esse disco tem um tamanho comparável à distância entre o Sol e a Terra e contém massa suficiente para formar até três satélites do tamanho da Lua.
Esta imagem, capturada pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) — do qual o ESO é parceiro — mostra uma visão ampla (à esquerda) e um close (à direita) do disco formador de luas que envolve o planeta PDS 70c, um jovem mundo semelhante a Júpiter localizado a cerca de 400 anos-luz de distância. Na imagem aproximada, vemos PDS 70c e seu disco circumplanetário em primeiro plano, enquanto o grande disco circumestelar, em formato de anel, ocupa a maior parte do lado direito. A estrela PDS 70 está no centro da imagem à esquerda, na visão mais ampla. O sistema abriga dois planetas, PDS 70c e PDS 70b — este último não é visível na imagem. Esses planetas escavaram uma cavidade no disco circumestelar ao absorver material dele, crescendo de tamanho. Durante esse processo, PDS 70c formou seu próprio disco circumplanetário, que alimenta o crescimento do planeta e serve como berço para o nascimento de luas. Esse disco tem um tamanho comparável à distância entre o Sol e a Terra e contém massa suficiente para formar até três satélites do tamanho da Lua.

O Futuro da Busca: SCALES

A equipe do SPAM não para por aqui. Eles continuarão a usar os instrumentos avançados do Keck para estudar outras estrelas jovens com discos promissores e compilar mais dados para o projeto. Além disso, eles estão se preparando para observações futuras com o SCALES, um imageador de alto contraste de próxima geração que está sendo desenvolvido para o Observatório Keck.

O SCALES expandirá a busca por protoplanetas com um nível de detalhe sem precedentes. Portanto, a cada novo sistema que estudamos, entendemos um pouco mais sobre como os planetas se formam e evoluem. É realmente incrível que possamos apontar um telescópio para uma estrela jovem a centenas de anos-luz e, de fato, ver as condições que podem dar origem a novos mundos.

O Próximo Rolê no Espaço

A jornada para entender a formação de exoplanetas é contínua e cheia de surpresas. O projeto SPAM, com sua técnica inovadora e o poder do Observatório Keck, está nos dando um mapa cada vez mais claro de como a poeira cósmica se transforma em mundos. A cada lacuna detectada e a cada aglomerado de poeira resolvido, a ciência avança um passo em direção à resposta da pergunta fundamental: estamos sozinhos no universo?

A descoberta de discos de transição como o de HD 34282 reforça a ideia de que a formação planetária é um processo robusto e comum. Por outro lado, a dificuldade em detectar os protoplanetas diretamente mostra que ainda há muito a ser explorado. Assim, a próxima geração de instrumentos promete revolucionar nossa capacidade de “ver” esses bebês cósmicos.


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FAQ – Perguntas Frequentes Sobre Formação de Exoplanetas

O que é um disco protoplanetário?

É um anel de gás e poeira que orbita uma estrela jovem, servindo como material de construção para a formação de planetas.

O que significa a sigla SPAM na astronomia?

SPAM significa “Search for Protoplanets with Aperture Masking” (Busca por Protoplanetas com Máscara de Abertura), um projeto de observação do Keck.

Qual é a importância do Observatório Keck neste estudo?

O Keck, com sua óptica adaptativa e o instrumento NIRC2, permitiu a utilização da técnica de máscara de abertura para obter a maior resolução de imagem próxima à estrela.

O que é um disco de transição?

É um disco protoplanetário que já possui lacunas ou buracos, sugerindo que um ou mais planetas já se formaram e estão “limpando” o material.

Quantos protoplanetas foram fotografados diretamente?

Apenas dois foram confirmados e fotografados diretamente até o momento: PDS 70 b e PDS 70 c.

O que é a técnica de máscara de abertura?

É uma técnica que usa uma máscara para transformar o telescópio em um interferômetro, aumentando drasticamente a resolução angular para ver detalhes próximos à estrela.

O que é o SCALES?

SCALES é um imageador de alto contraste de próxima geração que está sendo desenvolvido para o Observatório Keck, com o objetivo de expandir a busca por protoplanetas.

Indicação de Leitura

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Sugestões de Links Internos (Inbound)

ALMA Revela Estruturas Ocultas nas Primeiras Galáxias

Sugestões de Links Externos (Outbound):


Fonte:”NIRC2 Interferometric Imaging of the HD 34282 Transition Disk’s Small Grain Structure” publicado em iopscience.iop.org (https://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/ae0932).

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